03
Set 10

-Parabéns minha coisinha boa!
-Deixa-me dormir…
-Não quer saber qual é sua prenda? – Abri os olhos que estavam fechados e sentei-me. Olhei para David. Estava ainda de boxers, ou seja, não tinha ido à casa de Ruben buscar a grande “surpresa”. Voltei-me a deitar. – Então?
-Ainda estás de boxers.
-Então… Quem te disse que a prenda é só aquela?
-Há outra?
-Sim. -Levantei-me novamente, ao menos esta prenda ia saciar a minha vontade de saber qual era a outra. - Está pronta?
-Sim, vá, mostra. – David deu-me um beijo, não um beijo qualquer daqueles que se dá quando se chega a casa. Este era diferente, especial. O beijo durou, tal como o beijo que tínhamos dado em Sesimbra. Um beijo que mostrava o quanto nós estávamos apaixonados um pelo outro.
-Gostas-te?
-Sim, a melhor prenda que me podias ter dado.
-Então espera pela outra, vais adorar.
-Ó David, não sejas assim… Conta lá!
-Não, olha, vou para o treino. Você vai almoçar a este sitio, está lá toda a sua família. Mãe, Pai, madrasta, avôs, tios, primos, toda a gente. Depois eu vou lá ter, depois à noite reunimo-nos com os seus amigos e vamos jantar ao Hard Rock Café que você tanto adora. Que acha?
-É… Bom… Mas quem vai pagar isto tudo?
-Eu, claro!
-David, eu não quero nada disso. Fazia um almoço aqui em casa para todos e pronto.
-Não, está doida? Você é minha namorada, não importo com nada disso. E deixa de se preocupar com isso está bem? É o seu dia e tenho muita pena não estar contigo todo o dia. Ia ser maravilhoso e cheio de surpresa. Assim fica para a noite.
-Que azar! Só para a noite?
-Sim! Agora, vai tomar um banhinho e pôr te bem bonita, está bem?
-Sim. – David deu-me outro beijo, desta vez mais curto, de despedida e saiu. David tinha feito uma reserva no restaurante “O Flute” em São Francisco. Levantei-me da cama e fui tomar banho e vestir-me. Quando cheguei à casa de banho, mais outra surpresa, um vestido. O vestido era creme, simples, com uma fita dourada. Com o vestido estava um bilhete: “Espero que gostes, achei bonito e estou ansioso para ver você nele. Beijo”. Estava um bocadinho receosa que o vestido não me servisse mas ficou-me perfeito. O David já sabia o que me iria ficar bem só de olhar para a peça de roupa. Lembrei-me que não tinha nenhuns sapatos cremes e pretos, não ficava grande coisa mas tinha uns brancos que dava para desenrascar. Quando chego à prateleira dos sapatos e dou por mim a falar sozinha.
-David, és doido.
Tinha-me comprado uns sapatos lindos, da mesma cor que o vestido. Tinham salto alto e atilhos, como eu gostava os sapatos. Eram perfeitos. Mais uma vez, quando os calcei, davam-me na perfeição. Só tinha uma preocupação, estávamos ainda em Fevereiro e costumava chover, não estava tempo para aquela roupa e surpresa das surpresas, quando eu abri a janela para ver o tempo, estava sol. Ainda muito frio mas estava um sol radiante. Fui à procura do meu telemóvel, 32 mensagens não lindas, todas a desejar os parabéns. Era o meu dia e devia estar mais contente do que nunca, mas ainda faltava qualquer coisa. Sai de casa com a gabardine preta que tinha comprado no Natal, uma espécie de prenda para mim. Entrei dentro do carro e reparei que no vidro tinha um papel. Pensei que fosse uma multa, mas uma multa no parque de estacionamento à frente do prédio era muito estranho. Voltei a sair do carro para ir buscar o papel. “Tik-tok, o tempo passa depressa. Pronta para o round 2?”, era o que dizia o papel. Fiquei confusa, não percebia o significado do que estava escrito no papel, depois lembrei-me que podia ser dos meus vizinhos do primeiro direito. Sempre arranjar uma maneira de me chatearem, mas eram rapazes simpáticos. Voltei para dentro do carro, sem ligar importância ao papel. Olhei para as horas e já era meio dia, tinha que me despachar. Demorei quarenta e cinco minutos para lá chegar, já estava toda a família reunida. A falta que eu sentia dos almoços em família, de abraçar a minha mãe e receber o beijo na bochecha do meu avô. De ouvir o meu pai a dizer “Onde é que está o teu namorado?” de uma forma provocante e sempre em alerta, de ouvir o meu tio a dizer “Hoje trouxe a caçadeira, estou preparado. Onde anda ele?”. Das coscuvilhices das minhas avós e das minhas primas a discutirem quem era o famoso mais bonito (os quinze anos são uma maravilha), do meu primo com dez anos a cumprimentar-me, a desejar-me os parabéns e a jogar na consola ao mesmo tempo. Da minha madrasta a dizer ao meu pai e ao meu tio para pararem de beber. Uma família de doidos mas que era a minha família e amava-os a todos.
-Então filha, o David ainda vai demorar muito? – Perguntava-me a minha mãe, de uma forma calma e sem exaltar-se.
-Ele pediu para nos irmos sentando, ele ainda vai demorar.
-Mau! Já não gosto disto, então manda-nos vir e depois não aparece? Não gosto do teu namorado – Dizia o meu tio entre risos.
-Não gostas tu, nem eu! A minha filha com um jogador de futebol. Ao menos é do Benfica, menos mal. – Completava o meu pai, sempre entre gargalhadas.
-Vais gostar dele tio. É uma pessoa magnífica. E pai, menos. Tu até gostas dele.
-Sim filha, mas esperava casares com uma pessoa normal. Tu sabes, um médico ou então um gestor.
-Deixa lá estar a rapariga, ela está feliz e isso é que importa. Se eles se amarem… Serão felizes – dizia a Joana, namorada do meu pai, que vinha em meu salvamento.
-Obrigada Joana, vês pai?
-Sim filha, vamos comer? Estou com uma fome!
-Claro, vamo-nos sentar, o David reservou mesa.
-Ó sobrinha, e porque raio só me disseste isso agora? Se soubesse já estava lá sentado.
-Por essa mesma razão. Vamo-nos sentar? O David também não deve demorar e eu peço qualquer coisa para ele.
-Vamos lá então. – Dizia o meu tio de uma forma animada.
-Está muito linda.
-Obrigada mãe.
-Não me lembro desse vestido.
-Foi o David que me deu, não é lindo?
-É, inapropriado para a altura do ano em que estamos mas bonito.
-Ó mãe, não sejas assim. Está lindo.
-E o que te deu de prenda?
-Um beijo.
-Um beijo?
-Sim, a melhor prenda que já recebi até hoje.
-Muito bem filha. Ele é um bom rapaz, tem cuidado está bem?
-Sim, está bem mãe. – Não tinha entendido. Se é bom rapaz porque raio tinha que ter cuidado? Talvez tivesse-me alertar por causa das fãs ou então por causa da possibilidade de ele sair do clube. A minha mãe já sabia mesmo que eu não lhe tivesse dito nada, se o David fosse vendido, eu ia com ele e não havia ninguém que me tirasse isso da cabeça. Era com o David que eu queria ficar.
O almoço correu bem, o David chegou meia hora mais tarde, à hora certa, tinha chegado a comida há pouco mais de um minuto. Come-mos “à grande e à francesa”, sem restrições como o David nos disse no almoço. Depois foi pagar, sozinho, mas antes teve uma grande discussão com o meu pai. A discussão tradicional dos homens, “Quem paga sou eu!”. Mas o David era muito teimoso, só eu conseguia ser mais e depois de uma discussão de cinco minutos, lá conseguiu convencer o meu pai a ser ele a pagar a conta. Despedimo-nos de toda a gente, já era tarde e o tempo já estava a ficar com nuvens. Fomos para casa, eu no meu carro e o David no seu, infelizmente. Não tinha ido à faculdade outra vez, mas tinha que ir lá entregar o relatório que já estava feito. Então como passava por lá, resolvi ir logo entregar. O Doutor Rogério não estava lá mas como estava a mulher (adivinhem, Doutora Almerinda Justo. E tinha que tratar por Doutora se não ainda nos respondia mal) entreguei a ela. Voltei para dentro do carro, ia começar a chover, quando cheguei ao prédio o David estava na porta à minha espera.
-Onde foi? Estava a ficar preocupado.
-Fui entregar o relatório, desculpa não ter-te dito nada.
-Não faz mal. Vamos…
-Espera, eu tenho que ir ter com os vizinhos do primeiro direito. Eles deixaram-me um bilhete no carro.
-A dizer?
-Brincadeiras deles. Sabes como eles são.
-Não estou a gostar nada disso.
-Ó David, deixa-te de coisas. Vens comigo?
-Sim, claro.
Subimos as escadas e fomos para o primeiro andar. Toquei à campainha e logo a seguir ouvi um grito. Pela voz, parecia ser o Paulo.
-Catarina! Parabéns! Olá David.
-Oi.
-Obrigada Paulo. – Vejo o Eduardo (Edu como toda a gente o chamava) a sair do quarto ainda de boxers.
-É preciso fazer tanto barulho? Cheguei tarde ontem… Parabéns Catarina. – Edu era muito divertido mas quando o acordavam depois de uma noite de festa, tinha um mau humor horrível.
-Obrigada Edu. Olhem, por acaso não foram vocês que deixaram  um papelinho no meu carro?
-Papelinho? Não… Porquê?
-Deixaram-me lá um bilhetinho e pensava que tinham sido vocês. Mas pronto, deixa. Até amanhã.
-Até amanhã Catarina, e um bom resto de dia.
-Obrigada Paulo.
Paulo fechou a porta e eu pedi o elevador. David estava com ar pensativo.
-Então, se não foram estes, quem foi?
-Que pôs o papel?
-Sim.
-Não sei. Deixa… São coisas parvas. Não é preciso dar importância. Devem ter sido miúdos ou assim.
-Sim espero que sim. Que vamos fazer a casa? – Entramos os dois dentro do elevador
-Quero trocar de roupa.
-Não gostou?
-Não David, adorei. Obrigada – dei-lhe um beijo na bochecha – mas está a ficar mais frio e queria vestir uma coisa mais quente.
-Ah, pronto. Mas gostou?
-Não… Amei! É lindo. Já conheces o meu gosto e tudo!
-É igual ao meu, você tem bom gosto e eu também.
-É deve ser. – saímos do elevador – ou então foi por causa de mim que te vestes bem.
-Como assim?
-Quando entrei na tua vida tu passas-te a vestir-te melhor sabes…
-Hã? Eu sempre me vesti muito bem!!
-Pois vestis-te, só estou a brincar contigo. És é vaidoso a mais!
-Alguma vez?
-Sim, todas as vezes. Abre a porta de casa.
-Preguiçosa.
-Tenho as chaves na mala e tu tens já no bolso. Mas se tu quiseres posso abrir eu, ficamos é aqui meia hora até eu encontrar as chaves.
-Sendo assim, é melhor eu abrir não é?
-É. – David sorria e abria a porta. – Enquanto você se veste eu vou ver um bocadinho do Rocky Balboa.
-Óptimo, desde que eu não veja.
-Eu sei. Chatinha.
-Deixa de ser assim. Eu não sou chatinha. E ainda não me esqueci do susto que me pregas-te ontem! “Afinal vamos ver o Rocky Balboa”. Parvo.
-Ficaste mesmo desesperada.
-Pois fiquei. Vá, vai lá ver o filme, eu vou me despachar e ainda quero ir à net um pouco.
-ok, veste aquela camisa branca que você tem.
-Porquê essa?
-É bonita, gosto de ver você com ela.
-Se calhar já não te lembras, mas foi essa camisa que levei ao nosso primeiro encontro.
-Lembro-me pois! – David agarrava agora em mim na cintura com uma mão e com a outra dava acariciava o meu rosto – Estavas tão linda nesse dia, como em todos! Mas nesse dia estavas deslumbrante. Recordo-me desse dia como se fosse ontem. Vai fazer este mês seis meses. No dia vinte e nove.
-Ainda bem que te recordas. Eu lembro-me tanto da tua cara de pânico quando te pedi as chaves do carro mas o que me lembro melhor é sem dúvida do nosso momento no cabo espichel. Foi lindo. Dos momentos mais especiais que já passei contigo.
-Pensava que todos eram especiais.
-E são, mas há uns que superam os outros.
-Então diz, qual foi o mais especial.
-Há vários, a nossa primeira noite juntos, a ida ao cabo espichel, hoje de manhã. São muitos.
-Para mim são todos únicos. Dificilmente consigo fazer um TOP. Quer dizer consigo.
-Então?
-Todos os momentos bons estão em primeiro. O caso da Lisa está em último. Foi horrível.
-Eu prefiro esquecer isso. Só destrói momentos.
-Pois, tens razão. – David aproximava-se de mim, sentia o seu respirar na minha cara. Os lábios aproximavam-se e ficavam a escassos centímetros.
-Tu sabes que eu adoro estes momentos assim? São estes que estão nos meus “momentos favoritos”. – Dizia-lhe baixinho ao mesmo tempo
-Eu sei, também os adoro. – David acabou com o espaço que faltava para os seus lábios tocarem nos meus e beijamo-nos. Embora já fossem milhares os beijos que demos juntos, todos eram diferentes e todos especiais.

publicado por acordosteusolhos às 00:08

Ohh, estes dois são mesmo muito queridos! *-*
O David é craque a fazer surpresas. Tão romântico! :D
Já estou ansiosa pelo próximo, Catarina! Beijinhoos!
- Sara a 3 de Setembro de 2010 às 00:42

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