A semana passava lentamente. Na terça o David deu-me a notícia que precisavam alguém que ajudasse nos eventos do clube. Um tipo de relações públicas. Eu aceitei logo. Na quarta de manhã fui ao Hospital da Luz, com a cunha de David claro e vi fazerem dois testes. O primeiro foi há procura de células cancerosas e o segundo foi um teste de gravidez. O doutor que estava lá era um simpático, disse-me tudo o que precisava saber e para além disso algumas dicas. À tarde fui trabalhar. O meu horário era das dezasseis horas até às dezanove e meia (outra vez, cunhas do David). No primeiro dia não fiz rigorosamente nada. Tiveram-me apenas apresentar a casa. Até que, às dezanove, quando estava para me ir embora vi uma discussão.
-Não queres apresentar o jornal das vinte e uma não apresentas! Mas não esperes nenhum aumento depois disto!
-Também ia fazer o jornal sem aumento! – A rapariga vira as costas e vai-se embora, o homem irritado dá um pontapé no caixote do lixo e virou-se para mim.
-Olá. Desculpa, és nova aqui não és?
-Sim sou.
-Namorada do David.
-Sim.
-Eu sou o director da BenficaTV. Já pensas-te em apresentar um programa?
-Um programa?
-Sim.
-Não…
-Estás a trabalhar com quem?
-Sou assistente de uma senhora chamada Maria da Conceição. Da parte de organização e Marketing.
-Da Maria? Óptimo. Vou dizer a ela que vais para aqui, até lhe faço um favor, a ela e a ti. És a nova apresentadora do jornal das vinte e uma. Começas amanhã.
-Hã?
-Às vinte horas aqui na BenficaTV. Ok?
-Ok… - O tal director da BenficaTV virou as costas e foi-se embora. Ainda estava parva com aquilo tudo. Eu ia apresentar um programa da BenficaTV. Não ia recusar, era um trabalho espectacular e devia-se ganhar bem. Para além disso eram só umas horas e à noite. Era o trabalho perfeito. Tirando o facto que ia trabalhar em directo e para milhares de pessoas. Fui-me embora ainda um pouco incrédula. Cheguei a casa eram dezanove horas e quarenta e cinco minutos e o David já tinha chegado, fiquei ainda mais incrédula.
-Olá amor. – Disse quando abri a porta de casa.
-Olá! Então como correu o dia? – Deu-me um beijo grande, já não o vi-a desde de manhã.
-Cansativo, estranho e também correu muito bem por acaso.
-Conta!
-O que dizias se eu fosse apresentar o jornal das vinte e uma da BenficaTV?
-Dizia, o quê?!
-Amor, vou apresentar o Jornal das vinte e uma.
-Hã?
-Sim, convidaram-me.
-E você aceitou?
-Sim mas antes queria ver se não te importavas.
-Claro que não! Que bom meu amor! – Abraçou-me e deu-me outro beijo – mas há um problema.
-O quê?
-Tenho fome!
-Para variar! Vou fazer uma comida.
-Faz uns bifinhos com natas e cogumelos.
-Está bem.
A conversa continuou, fomo-nos deitar e no dia seguinte tive que sair cedo. Dei-lhe um beijo na testa e fui para a universidade. Faltava só mais este ano para o curso acabar e estava ansiosa para arranjar emprego. Já chegava de exames e de relatórios. Era tudo muito complicado. Sai da universidade às quatro, decidi ir para a biblioteca para fazer o relatório das experiências. Já tinha quase tudo feito em vinte folhas que tinha num caderno era só copiar.
-Olá. – Baixei o computador e vi quem era. Um rapaz que eu tinha uma paixão no décimo ano.
-Olá Rui! Há tanto tempo!
-Eu sei! – Levantei-me e abracei-o – Como estás? Agora namoras com o David hein!!
-Estou óptima! Sim, e tu? Continuas com a Patrícia?
-Não, acabamos.
-A sério? Quando?
-À um ano.
-Pois, então e depois?
-Só curtes e assim, nada de sério.
-Estou a ver – era esta uma das razões que eu deixei de gostar dele. Era um miúdo irresponsável e sem cabeça. Tinha namorada e andava com outras raparigas. Irritante.
-Queres ir sair?
-Eu? Estou a fazer um relatório…
-Vá anda! Vamos beber um café ou assim!
-Não gosto de café – Nunca mais se ia embora.
-Catarina… Não sejas assim.
-Assim como?
-Dificil!
-Tenho que te apresentar uma amiga minha. Perfeita ti!
-Porquê? Não és tu que és perfeita para mim? Era o que as tuas amigas diziam.
-Achas que com dezasseis anos nós sabemos alguma coisa da vida?
-Eu sabia.
-Ó, poupa-me! Dizias que sabias o que era o amor e tinhas feito sexo com umas raparigas.
-Então e tu? Tu andas-te com um gajo que te pôs os cornos e ficas-te com trauma que só depois, passados três anos voltas-te a sair com um.
-Não queiras que esta conversa acabe mal.
Ele levanta-se da sua cadeira e agarrou-me no braço.
-Ouve-me, tu é que vais acabar mal com esta conversa – outra razão, deixei de gostar dele. Agressivo e irritava-se facilmente.
-Larga-me!
-Hey! Larga ela! – Chegava o David nesse preciso momento. Agora é que isto ia dar para o torto. – Catarina agarra nas tuas coisas. – Nem pensei duas vezes. Fechei o computador e agarrei no meu caderno e na minha mala.
-Olha o namoradinho. Só me faltava cá este.
-Vamos embora Catarina. – David tentava-se controlar, ele escolhia ir sempre pelo bem mas o que era demais era demais.
-Olha que este é demasiado bom para ti. Vai te por os cornos também Catarina. – David que estava virado de costas para ele vira-se de repente para ele.
-Vai-te embora.
-Sabes Catarina, ele aproveita-se de ti, quando chegar uma proposta boa ele vai-se embora e deixa-te aqui. Sozinha e abandonada. Ouve o que te digo. Estes gajos só querem uma coisa. Sexo. – David mordeu o lábio, tinha que o tirar daí, já sabia o que vinha a seguir.
-David vem! Por favor!
-Você está calado rapaz? O que sabe da vida? Vai embora!
-David! – Ele olhou para mim, eu agarrei na mão dele e levei-o da biblioteca.
-É isso Catarina, vai-te embora. Mas não te esqueças no que eu te disse.
Saimos da biblioteca e fomos para o jardim mais, a uns metros da biblioteca mas sentamo-nos num banco escondido.
-Como soubeste que estava na biblioteca?
-Sabia que gostavas de estar na biblioteca para fazer trabalhos então vim ver-te mas isso não interessa! Quem era aquele?
-Um rapaz que eu tive uma paixoneta aos dezasseis anos. A conversa começou bem e acabou mal.
-Estou a ver.
-Tens que ter mais calma.
-E tu? Quando foi com a Luísa? Tiveste calma?
-Não. Mas… David, não era preciso reagires daquela maneira.
-És a minha mulher… Não podia ficar para assistir.
-Nem sabes como isso importa para mim.
-O quê?
-“És a minha mulher”. Tens razão.
-No quê?
-Quando dizes que a idade não importa. É verdade. – Demos um beijo. Era naquele momento que eu sabia que ia ficar com David para sempre. Sabia também que, se ele me pedisse em casamento, eu ia aceitar. Sem pensar duas vezes.
-Tenho de ir para o treino…
-É às seis horas?
-Sim…
-Ainda me consegues ver no noticiário certo?
-Sim! Claro! Não ia perder aquilo por dada! Os rapazes estão ansiosos por te ver também.
-Contaste-lhes?
-Sim, claro… O Coentrão dizia que eu parecia um “namorado babado”. – Percebi logo porquê, David desde que a filha de Fábio nasceu diz-lhe que ele é um pai babado.
-Eu não acredito! Agora ainda estou mais nervosa!
-Vai correr tudo bem. E se não fizer grande estreia lembra do Roberto ou de mim.
-Sim, mas é diferente. Se não gostarem de mim despedem-me!
-Não despedem não. Eu ainda tenho as minhas cunhas lá…
-Não suporto essa tua conversa. Mas obrigada.
-Porquê?
-Porquê do obrigada ou porque é que não suporto a tua conversa?
-O Obrigada.
-Porque se não fosse as tuas cunhas não tinha emprego.
-Pois é!! Não reclames.
-Nunca reclamei.
-Sim, está bem! Tenho mesmo que ir…
-Eu também vou – David deu-me um beijo e foi-se embora. O carro dele estava do outro lado da biblioteca. O meu ainda estava longe da biblioteca. Quando cheguei ao carro reparei que já eram seis horas e tinha que me despachar. Queria arranjar um roupa bem bonita pois ia apresentar um programa para a televisão do meu clube.