02
Set 10

Acordei às dez da manhã, David ainda ressonava e bem alto, era bom sinal, estava cansado e tinha-se esforçado. Não o quis acordar, nem dei por ele de madrugada por isso deve ter chegado mesmo tarde. Vesti-me e sai de casa, fui dar uma volta, tinha que fazer compras estávamos a ficar sem comida. Deixei-lhe um bilhete.
“David fui fazer compras. Espero que estejas bem. Amo-te, beijo grande”
Cheguei a casa novamente, já com compras e ainda nada de David. Ainda estava a dormir. Já era quase uma hora da tarde, fui fazer a comida. Decidi fazer uns medalhões de pescada com natas. Ele adorava aquela comida. Quando já era duas horas a comida já estava pronta e o cheiro da comida já tinha chegado ao quarto. David já estava na cozinha atrás de mim.
-Dormis-te pouco hoje.
-Estava a chover no jogo não viu? Deixou-me mesmo estafado.
-Claro que vi, não ia perder por nada. Pois, eu vi logo, hoje de manhã ressonavas pouco – disse num ar irónico.
-Eu não ressono.
-Só quando estás cansado mas não te preocupes, eu até gosto, é um género de um despertador.
-Vê lá! E você como está?
-Estou bem, ontem acabei de fazer o relatório sabes? Estou tão feliz!!
-Ficou bom?
-Eu acho que sim, amanhã vou já entregar ao Doutor Rogério.
-Eu ainda não percebi, ele é doutor ou professor?
-Amor, é meu professor mas toda a gente trata ele por Doutor por ter um doutoramento numa parte da química que não me estou a lembrar bem. Mas tem haver com a parte da medicina.
-Ah, pronto. Mas não quer voltar para a BenficaTV?
-Não, não quero.
-Ok então. Já notei pelo seu tom de voz que está mesmo chateada.
-Como dizia Nicolau Brayner na série “Aqui não há quem viva”, a mim ninguém dá baile! E eles não vão conseguir pôr me lá outra vez depois de me terem despedido.
-Teimosa.
-Não sou teimosa, apenas feriram o meu orgulho e nunca tinha sido despedida! Que raiva.
-Eu sei, nem te quero forçar a nada mas eras uma óptima jornalista.
-Deus tem para mim, outros planos. É verdade, e a minha prenda?
-Quando é que fazes anos?
-Amanhã.
-Então, amanhã sabes?
-Mau! Diz lá!
-Não.
-Por favor!
-Não.
-Vá lá!
-Não!
-Ok! Vai-te vestir! Não penses que vais comer de boxers.
-Nem eu queria. – Deu me beijo da bochecha e foi se vestir. Voltou cinco minutos depois já estava a mesa posta e a comida servida no seu prato. Sentou-se e deu a primeira garfada.
-Como está?
-Óptimo! Está tão bom! Que delicia!  Deve ser a melhor comida que fazes!
-Por acaso acho que não está nada de especial.
-Está pois! Onde vamos à tarde?
-Não sei, onde queres ir?
-Por mim, íamos ao Brasil, apanhar um pouco de sol.
-Eu estou livre.
-Engraçadinha.
-É a verdade. Não me importava nada, ainda por cima que tenho lá casa agora.
-Ó, deixa de coisas, não podes ir sem mim. Podíamos ir ver um filme ao cinema.
-Qual?
-Não sei, uma comédia qualquer.
-Estava a pensar fazer um coisa mais caseira.
-O quê?
-Podia ser um filme mas cá em casa.
-Por mim. Queres ver qual?
-Queria ver o Casablanca.
-Isso não é um filme muito antigo?
-Sim, a preto e branco e tudo, mas como fazem boas críticas a ele… Queres ver?
-Sim, se quiseres. É romântico não?
-Muito e acho que dramático também.
-Se me deixar dormir não te chateias pois não?
-Não, já sei como é. Sabes que não me importo, já estou habituada.
-Ó, você escolhe filmes que são uma seca!
-E tu escolhes filmes que são uma treta!
-Eu? Nunca.
-Depois de ver o Rocky I, II, III, IV… Sim, são uma treta.
-São giros, ali o Rocky a dar cabo de todos.
-Os filmes são todos iguais.
-Não são não. Tu até gostas.
-Eu gosto porque tenho que gostar não é?
-Não obrigo você a gostar dos meus filmes.
-Está bem.
-Amuou.
-Não, não amuei. Olha, enquanto eu estiver a lavar a loiça tu podias ir alugar o filme, que achas?
-Fico com o trabalho mais fácil? Uí, gosto!
-Ainda bem que gostas porque está a chover torrencialmente e eu não quero sair de casa por nada!
-A sério? Então olha, eu tive a pensar e você podia ir buscar o filme que eu…
-NÃO! És um cavalheiro e vais lá, não vais amor?
-Sempre tramado. Sempre!
-Não és nada. Vá, come a comidinha toda.
-Já me viu a deixar comida no prato?
-Não, algo que nunca te vi fazer. Por mais incrível que pareça.
-Então pronto.
David comeu tudo e foi buscar o filme. O videoclube ainda ficava um bocadinho longe e vi o David sair com o carro. Perfeito! Ia ter tempo suficiente para pôr a loiça na máquina e ir à procura da minha prende. Precisava de encontrar a prenda, David andava há uma semana a dizer que já tinha a prenda mas só me dava no dia de anos. Já me estava a irritar. Mal acabei de pôr a loiça na máquina e dar um jeito na cozinha, comecei a minha busca. Comecei no quarto. Procurei debaixo da cama, em cima da cama, nos móveis, até em todos os ténis que ele tinha no armário. Nada. Passei para a casa de banho e também nada. Obvio! Estavam de certeza na sala (também era o único quarto que faltava procurar). Ia começar a minha busca no móvel da sala. Tinha que estar ali.
-Que está a fazer? – Dizia David agarrando na minha cintura. Dei um salto com o susto que apanhei.
-Ai! David! Que susto!
-Que estás a fazer?
-Eu? Nada…
-Estavas à procura da prenda não era?
-Não.
-Estavas sim!
-Está bem! Eu admito! Estava. Onde está?
-Não está cá em casa. Está na casa do Ruben.
-Ah, que interessante. Queres ir ver o filme à casa do Ruben?
-Não. Por falar em filme, não te chateies amor mas não trouxe o Casablanca.
-
Então e qual trouxeste?
-Rocky Balboa, o que saiu em 2006.
-Estás a gozar não estás? – A frase saiu muito alta, estava irritadíssima.
-Não, olha aqui. – mostrava-me o DVD ao mesmo tempo que sorria.
-Eu vou-te matar David!
-Tem calma amor, o filme está aqui. Queria só ver a tua reacção e foi tal e qual como imaginei!
-Que graça – dei-lhe uma chapada no braço – Não acho isto bem!!
-Au! Eu acho giro. Se você visse a sua cara! – David ria-se perdidamente, eu estava com o braços cruzados na forma de ele notar que estava chateada – Não fica assim Catarina. Está tudo bem, olha aqui o filme.
-És tão parvo.
-Mas tu gostas. Vamos ver?
-Sim.
O David pôs o CD no DVD e foi fazer pipocas. Quando voltou começamos a ver. O filme, embora preto e branco era lindo. Chorei várias vezes mesmo sendo para ninguém porque o David logo que acabou as pipocas, deixou-se dormir. O filme era muito romântico, uma história única mas a nossa tinha sido mais bonita.
-Já acabou. Já viste, que lindo. A nossa foi mais gira não achas?
-Sim… - Mesmo a dormir o rapaz falava!
-David, estás a dormir?
-Sim…
-Então diz-me, onde escondes-te a minha prenda?
-Na casa do Ruben.
-O que é?
-E não querias saber mais nada não? – David abria os olhos e agarrava o meu nariz – Que traiçoeira hein?
-Au! O meu nariz! Se ele já é grande a puxares dessa maneira! Não sou nada… Estava só à espera que me dissesses.
-Amanhã à noite já sabes.
-Isso é muito tempo!
-Não é nada. Vá, que vamos fazer o resto da tarde?
-Agora? O jantar. Já são sete horas David.
-A sério? Pois, já tenho fome.

“Ding-dong” a campainha tocava.

-Vai lá ver quem é David…
-Porquê eu?
-Porque sim… Porque deixas-te dormir a ver um filme romântico e comigo.
-Ok, eu vou. – David levantou-se e foi abrir a porta, eu levantei-me logo atrás dele mas entrei para dentro da cozinha – Mano! Então como está?
-Há jantar para mim?
-Claro que há Ruben! És sempre bem-vindo, devias saber isso.
-Obrigada Catarina. Estava a brincar…
-Nada disso meu irmão, agora vai ter que ficar!
-Não, não quero dar trabalho. 
Sai da cozinha e fui-me ao encontro de David que ainda estava na porta a receber o Ruben. Não podia deixar que Ruben se fosse embora assim.
-Não dás trabalho nenhum. Quem faz comida para dois, faz comida para três.
-Obrigada Catarina.
Saímos da porta de entrada e fomos para a cozinha.
-Gostava de saber o que estão aqui a fazer, já sei que não vão ajudar em nada. Só se for a estragar a comida.
-Até parece Catarina, sabes que eu cozinho muito bem.
-Claro Ruben, tu e o David. Vão lá para a sala, está bem?
-A patroa manda! ‘Bora Mano, vamos jogar um bocado enquanto ela faz o jantar.
-Ok David. Catarina, boa sorte.
-Obrigada Ruben.
Os rapazes foram-se embora e ao fim de um minuto já se ouvia eles os dois à “guerra” na sala. Acabei por fazer um lombo no forno com umas batatas fritas. Como demorou mais tempo a comida só começamos a comer às nove, consequência: dois jogadores de futebol a comerem que nem doidos. Depois do jantar acabamos por falar durante mais de duas horas, sobre futebol (onde só eles os dois participaram na conversa enquanto eu assistia), família, o meu aniversário e também sobre o novo relacionamento de Ruben com uma rapariga. Saiu de casa era quase meia-noite, despedimo-nos depois de eu ter passado os últimos minutos a pedir que ele me dissesse o que era a prenda. Ruben manteve-se forte e não disse nada. Estava-me a corroer por dentro toda aquela situação. Era demasiado coscuvilheira para me esconderem algo tão importante. Uma coisa era certa, David tinha uma surpresa para mim, e como eu odiava surpresas.

publicado por acordosteusolhos às 23:19

comentários:
ca para mim a prenda é um anel de noivado :D. Continua assim. Parabens.
a 2 de Setembro de 2010 às 23:40

Ai o que me ri com a história do Rocky Balboa. A Catarina já deve ter ficado com um trauma com esse filme. xDD
Fiquei mesmo ansiosa pelo próximo. Qual será o presente? *-*
Maaais. Beijinhos!
- Sara a 2 de Setembro de 2010 às 23:49

Já chegámos às 19 mil visitas... Mais um capítulo!! ;)

Parabéns, Catarina! Continua o bom trabalho.

Tb aposto no anel de noivado... =)
patrícia a 3 de Setembro de 2010 às 00:18

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