07
Set 10

-Catarina? Estás aí? Catarina! – Dizia Lúcia no intercomunicador do prédio.
-Catarina abre a porta!! – Gritava David.
A vizinha do primeiro direito veio à varanda ver o que se passava.
-Quem está para aí a gritar? Ah, David! Felicidades pelo casamento! Faz a Catarina muito feliz. Olá Lúcia e Ricardo! Se estão à procura da Catarina ela já saiu. Foi com a Patrícia.
-Com a Patrícia!? Tem a certeza?
-Absoluta. Foi com a maluquinha. Porquê meu queridos? Achei estranho ela ir com a Patrícia, ainda por cima iam carregadas.
-Obrigada.
-Então e agora? – Perguntava David.
-Se conheço bem a Patricia elas foram acampar. Para irem carregadas. Nem a Patrícia nem a Catarina tinham dinheiro para irem para um hotel. Nem para uma pensão! – Ricardo olhava para Lúcia que até dava uma boa inspectora. Ela tinha razão. Tinham que procurar em todos os parques.
-Esperem aí! Nós não podemos procurar em todos os parques do pais!
-Mas podemos ligar. – Dizia Henrique a Ruben.
-Sim! É uma óptima ideia!
-David, é de doidos! Há imensos parques em Portugal. E nós nem sabemos se elas estão mesmo num parque. Quem era o maluco que ia para um parque com este tempo?
-Gustavo, não me importa. Nem que eu tenha que correr este pais todo. Eu quero a Catarina e vou lutar para isso.
-Ok, então vamos para a casa da minha mãe. É já ali à esquina. – Dizia Ricardo.
-Então vamos andando. Foram a pé e chegaram à casa da mãe do Ricardo passados dois minutos. A chuva tinha dado algum descanso e agora tinham que telefonar a todos os parques.
-Não faz sentido telefonarmos a todos. Telefonamos agora aos que estão mais pertos e depois vai-se avançando. – Dizia Henrique.
-Sim. Bem pensado.

Três horas depois…

-Patrícia Silvino? Sim… Quantas pessoas estão? Seis? Veja se há uma Catarina Silva. Não? Então não deve ser a mesmas pessoas… Obrigada.
-Então?
-Era uma Patricia Silvino mas a Catarina que havia era Catarina Marinho.
-Ah.. Por pouco… - Respondia Henrique a Lúcia. Quando todos olharam para David. Que sorria pela primeira vez.
-Ela usou o meu ultimo nome.
-Como assim?
-Catarina Marinho. Eu sou David Marinho.
-Espera aí, tu não és David Luiz?
-Sim, mas esse é o meu segundo nome.
-Então onde era esse parque?! Vamos lá!!
-Era em Sesimbra… Forte do Cavalo.
David não conseguiu conter-se e sorriu outra vez mas desta vez os seus olhos brilhavam. Catarina estava no sitio onde eles se tinham beijado pela primeira vez e o mesmo sitio onde David tinha pedido em casamento ela.
-Vamos lá então. – Dizia David.
-Não, não podemos.
-Porquê Ruben?
-Daqui a uma hora temos treino e sabes como a Catarina é. Pensa no que ela quer, ela quer que vás ao treino. Depois vais… Para além disso, já sabemos onde ela está e isso é que é importante.
-Eu quero lá saber do treino!
-David, o Ruben tem razão. A Catarina queria isso. Vai com eles.
-Ok… Depois à noite vou ter com ela.
-Sim David, mas agora vamos comer. Até já malta. Obrigada por tudo.
-Obrigada.
Seguiu-se os despedimentos de todos. David tinha o lábio inchado, ainda não tinha comido nada mas se fosse por ele já estava a caminho do Forte do Cavalo para dizer tudo o que se passou a Catarina. David ouve o seu telemóvel a tocar. Era a mãe de Catarina.
-Sim?
“David, a Catarina esteve aqui em casa levou roupa e deixou um bilhete. O que se passa?”
-Não se preocupe. Está tudo bem. Ela está com uma amiga. Ela chateou-se comigo. Eu depois falo com você. Vou conduzir agora, mas se telefonar à Lúcia ela conta-lhe tudo…
“Ok David. Adeus.”
-Adeus.
David não ia conduzir logo mas não teve coragem de dizer à mãe a condição em que estava a sua filha. Lúcia iria saber o que fazer.

*

-Catarina onde vais a esta hora da noite?
-Vou dar uma volta. Talvez ao cabo…
-Queres companhia?
-Não, gostava de ir sozinha se não te importas…
-Claro Catarina… Ainda é um bom esticão até lá.
-Não me importo. Vai-me fazer bem.
-Ok… Até já então. Se precisares de ajuda liga.
-Não tenho telemóvel.
-Leva o meu. – Mandava Patrícia para as mãos de Catarina o seu telemóvel.
-Obrigada. – A tarde tinha sido animada. Eu não ria, mas ao menos também não chorava. O que já era óptima noticia. Entrava no carro de Patrícia, o que já tinha dado a volta a Portugal mais do que uma vez. Já tinha feito o caminho até o parque agora eram só 13 quilómetros. Cheguei ao cabo era quase nove horas da noite, já estava escuro e pareciam ser já dez ou mais. Fui para o sitio onde David me tinha pedido em casamento. Não queria chorar mas não resisti. Sentei-me no chão e levei as mãos à cabeça. Soltei um grito que até no Brasil devem ter ouvido. Um grito de raiva, de dor, de sofrimento. Um grito a pedir ajuda. O cabo estava vazio como estava a maior parte dos dias de inverno. Apetecia-me ir à ponta do cabo mas era perigoso. Mas neste momento já não sentia mais nada sem ser dor. Se caísse, não ia fazer falta a ninguém. Caminhei até à ponta do cabo, levantei os braços e senti o vento, a água do mar que estava tão forte com bocadinhos de água chegavam à minha cara. A lua não se via, estava coberta por nuvens. Apetecia-me mandar-me dali, daquela altura e daquela maneira só para ver o que me acontecia. Já estava morta por dentro, agora a Catarina era só um corpo a andar para trás e para a frente. A soltar sorrisos amarelos e a desejar que o dia passasse o mais rapidamente possível. Todos os dias a partir daquele iam ser iguais, monótonos, sem alegria. O melhor era acabar com esse sofrimento ali e agora. Voltei a olhar para o anel de noivado, voltei a pensar na perfeição que tinha sido há dois dias e na perfeição do anel. As palavras que ele me tinha dito. Recordei-me de todos os bons momentos que me passaram pela cabeça em segundos. Sorri para os céus e agradeci a Deus aqueles meses de sonho.
-Amo-te David. – Disse ao mesmo tempo que fechava os olhos e a minha perna direita dava o primeiro passo para o que seria a minha morte. Naquele sitio tinha dado o primeiro beijo da minha história com David, tinha ficado noiva e agora ia morrer. Algo ainda mais trágico do que o romance de Romeu e Julieta.
-Não! Catarina! – Alguém me puxou para trás. Não vi bem quem mas ao puxar-me para trás fez-me cair e bati com a cabeça numa pedra. – Catarina, você está a deitar sangue. – Abri os olhos lentamente, estava zonza e não conseguia focar a imagem mas conhecia aquele cheiro muito bem, era David.
-Cheguei ao céu?
-Não! Você não vai a lado nenhum sem mim. Anda. Vou-te levar ao médico. – Não ouvi mais
nada, os meus olhos fecharam e não senti mais nada.

publicado por acordosteusolhos às 21:32

comentários:
Tou a adorar. Tu és realmente fantástica a escrever. Quando postas mais?
Anónimo a 8 de Setembro de 2010 às 16:16

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