12
Set 10

-David! David!
-Que foi?
-Está tudo desarrumado! Outra vez!
-Não tenho culpa! De quinze em quinze minutos aparece uma prenda nova! Impressionante!
-Ai… Estou irritada! Sabes quantas vezes é que já fui à casa de banho hoje? Quinze! E só são seis da tarde!
-Então e eu? Tenho também as minhas necessidades e não as posso satisfazer!
-Utiliza a mão! Desculpa lá, mas nós não temos espaço para tantos presentes! E de onde vêm tantos presentes?
-Olha, estes três são do Ruben, este é da mãe do Ruben, este é do Luisão, este do Saviola, este do Fábio, este do…
-Já compreendi! – Estávamos no terceiro mês, faltava cerca de 4 semanas para o casamento. Durante o segundo mês correu tudo bem, senti-me às vezes com desejo mas foi normal. Agora, o terceiro mês estava a ser infernal, todos os dias ia mais de quinze vezes à casa de banho, sentia tonturas várias vezes. À noite chegava açordar com cãibras, como é que podia ter cãibras à noite? Nem estava a fazer qualquer esforço físico. A boa noticia é que a barriga já se notava e sai à rua toda vaidosa. A má noticia é que à coisa de dois dias fizemos um jantar de comemoração, por causa do nascimento e agora recebíamos várias prendas durante o dia. Algumas vinham do Brasil, outras de amigos do David de Espanha, do Norte do pais, até dos lagartos recebemos prendas. Não achava normal e isso deixava-me muito irritada. Os pais do David iam chegar nesta mesma semana e odiava não ter espaço em casa para recebe-los. Era isso que mais me irritava no nosso T1.
-Catarina, tem calma…
-Eu estou calma… Agora, tu é que me tens que aturar e prepara-te que isto vai piorar!
-O médico disse que este era o pior mês, juntamente com o oitavo.
-Queria tanto que isto já tivesse passado e já de estar aqui em casa com a minha menina.
-Menina? Não! Vai ser o menino do papá, para o papá ensinar ele a jogar futebol. Não é bebé, não é? – Dizia o David enquanto punha as suas mãos na minha barriga.
-Não, é a minha menina. Vai ser cientista como a mãe.
-A mãe ainda não acabou o curso.
-A mãe não acabou o curso porque o pai obrigou a mãe a sair do curso porque achava que não era seguro!
-E não era! Bem, já chega…
-Também acho. Olha, sabes o que me apetecia agora?
-Desde que não seja uma Sericaia.
-Não tenho culpa! Há anos que não comia isso.
-Sim, mas daí a pedir à tua prima para vir cá para fazer uma Sericaia…
-O Alentejo não é assim tão longe…
-200 Quilómetros?!
-Ela veio porque quis!
-Os teus desejos são incríveis. Já da outra vez andei por Lisboa à procura de uma Francesinha!
-E estava óptima!
-Sim, mas não tiveste que correr Lisboa inteira!
-E tu também não! Ligas-te ao Nuno e ele disse-te onde havia uma casa.
-Não foi bem assim! Eu só me lembrei que o Nuno era do Norte meia hora depois de andar feito parvo por Lisboa!
-Amor, menos, agora posso-te contar o meu desejo?
-Sim.
-Quero um beijinho!
-Um beijinho?
-Sim!
-Não dou desses.
-Então?
-Só dou beijos e dos grandes!
-Aceito então! – David agarra em mim com todo o cuidado do mundo, ultimamente era assim que me tratava, como um boneco de porcelana. As suas mãos na minha face e dava-me um beijo com todo o carinho do mundo. Ouvíamos o telemóvel.
-Impressionante como interrompem sempre.
-É o teu?
-Achas que é o meu David?
-Pronto, vou procurar o meu telemóvel. – David foi-se embora e ficou a falar ao telemóvel. Continuei a arrumar as coisas, biberões, chupetas, babetes, babygrows e outras coisas para bebés. – Nem sabes quem me acabou de telefonar!
-Quem?
-O Kaká.
-A sério?
-Porquê?
-A desejar as felicidades pelo bebé e que tudo corresse bem.
-Quem bom amor, ele é muito simpático mesmo. Bastante parecido contigo, a sua maneira de ser…
-Sim, ele é como um ídolo para mim, um modelo a seguir!
-É um óptimo modelo. Ainda bem que te ligou.
-Já está mais animada?
-Sim, mais… É tanta coisa…
-Eu sei. Precisamos de uma casa maior.
-Depois vê-mos isso quando mudares de clube.
-E se eu não quiser mudar de clube?
-David, eu sei que tens um grande amor ao Benfica, como eu, para além de jogador és adepto. Mas agora é diferente, um dia podes voltar mas no Benfica não poderás chegar às finais da Champions como no Barcelona consegues. Não porque o Benfica seja um clube inferior, porque não é, talvez até é maior do que o Barça, a nossa história é linda, mas eles tem dinheiro, como outros clubes têm e o futebol agora resume-se a isso mesmo, a quem tem mais dinheiro. Talvez um dia possas voltar ao Benfica mas por agora tens que seguir os teus sonhos, ganhar as grandes taças europeias e talvez alguns prémios individuais. Era óptimo que conseguisses ganhar no Benfica mas é algo difícil de alcançar….
-Eu entendo, mas como você disse à uns tempos atrás, o bebé para crescer precisa de estar num sitio e não sempre a mudar.
-Ele nos primeiros anos nem vai dar por isso, o que é preciso é termos cuidado quando ele fizer seis anos e for para a escola, quero que seja numa portuguesa.
-Nessa altura, julgo que já estamos cá em Portugal. Gostava de fazer o mesmo que o Rui Costa. Voltar um dia cá. Tenho que agradecer ao Benfica tudo, ao jogador que me transformou, à mulher que me deu, ao filho que vai nascer. Tenho que agradecer tudo.
-Eu sei, Deus sabe o quanto tu estás agradecido e ninguém pode dizer o contrário.
-Eu sei. Mas preciso de agradecer.
-E achas que ficar aqui mais um ano não é? Recusares óptimas propostas de outros clubes… Continuares a dar tudo por este clube… Isso sim, é demonstrares que estás agradecido por tudo…
-Você torna tudo mais claro, nada que eu possa fazer vai demonstrar o quanto eu estou agradecido por ter você a meu lado.
-E como achas que eu estou? Nunca pensei que ao fim de alguns meses iria estar noiva e grávida e com o melhor homem do mundo a meu lado. Não há palavras para descrever isto, foi quase como um milagre. Agradeço a Deus por ter-te posto no meu caminho.
-Eu também – David acaricia Catarina e dá-lhe um beijo, rápido. Interrompe o momento – Desculpa amor, tenho de ir para o treino.
-Então vai meu bem. 

 David dá outro beijo e vai buscar a mala dele e sai de casa. Fiquei sozinha outra vez em casa. Havia papéis por todo o lado, coisas de bebés por todo o lado. Já chateava um pouco. Engraçado, é que numa data aproximada, quando nós nos íamos casar o bebé ia fazer 4 meses. Íamos casar no dia 11 de Junho. Estava tão próximo, já era dia dez de Maio, faltava pouco mais de um mês. Agora, o nervosismo entrava em serviço, sentia-me mais nervosa a cada dia que passava. Jonathan ligava-me todos os dias com novidades, ora era do Bolo, ou da cor das toalhas ou então do centro de mesa das mesas dos convidados. As revistas apelidavam-me de “a mamã do ano”. Impressionante, a barriga tinha crescido pouco mas já falavam sobre eu ser a mamã do ano. O casamento estava quase pronto, o David já tinha escolhido o fato e continuava a não me dizer o que era, e as minhas madrinhas iam de igual. Sim, eu continuava a chamar de madrinhas, embora nos casamentos por civil chamassem “as testemunhas”. Até parecem que vão presenciar um crime. Apenas uma ia assinar o papel mas não me importava, isso ficava para elas decidirem e ao que parece, já tinham decidido, a Lúcia ia assinar. Da parte do David, o Gustavo e o Ruben iam ser os seus padrinhos, acho que o Gustavo ia assinar, ainda não tinha tido a certeza. Os últimos dois meses foram caóticos. Entre andar de um lado para o outro à procura dos sapatos perfeitos ou então a experimentar a comida que iam servir na festa. Uma grande confusão para uma pessoa que está grávida e que as suas mudanças de humor são constantes. Tínhamos comprado um pequeno armário para o bebé, para pôr as suas roupinhas, mas neste momento o bebé era capaz de ter mais roupa que eu e o David juntos. Os biberões já tinham ocupado a cozinha e os babetes as gavetas das toalhas. Parecia uma revolução histórica. Ainda faltavam seis meses para o bebé nascer, quantas mais coisas virão?

publicado por acordosteusolhos às 19:07

comentários:
O T1 vai mesmo arrebentar pelas costuras! xD
Quero mais :D
Filippa a 12 de Setembro de 2010 às 21:32

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