21
Dez 10

-Meu amor, vou sair. Tenho treino.
-Tão cedo…
-Já são quase dez da manhã. Não é cedo.
-Dez? Ontem só devo ter-me deixado dormir lá para as seis da manhã.
-Ainda dores nas costas?
-Cada vez piores. E os pontapés? Horríveis.
-Essa parte até é fofinha.
-Fofinha para ti, horrível para mim. Parece que querem sair “a mal” da barriga.
-Lembra do que o médico disse. Precaução. Ainda falta um mês.
-Eu sei, mas é horrível. Estas dores. Deixa-me dormir mais um pouco. Preciso de descansar.
-Claro meu amor. Venho logo.
-Teras um almoço à tua espera.
-Não é preciso, eu faço.
-Não sejas tolo. Dá-me um beijo.
David deu-me um beijo e sussurrou baixinho ao meu ouvido “Te amo”. Voltei a pôr a cabeça na almofada e tentei dormir. Ricardo tinha razão, as primeiras semanas foram horríveis. Quando David saia acho que caía num abismo sem fundo, chorava horas sem fim. Não conhecia nada nem ninguém. Quando David chegava fazia um sorriso amarelo mas ele sabia que não estava bem. Quem me ajudou e muito foi a namorada de Pepe, uma rapariga simples e espectacular. Tinha-se transformado numa grande amiga nos últimos tempos. Sempre pronta para ajudar e ouvir todos os meus problemas. Com ela ia as compras, falávamos sobre as nossas relações e quanto complicado era sair com os nossos homens. Parecia que havia fotógrafos em todo o lado. Não lhes escapava uma. A boa notícia é que o Real Madrid estava primeiro lugar e que eu já estava nos meu oitavo mês. Dores, dores e dores era o que eu sentia. Já não dormia nada de jeito à noite. Cinco, seis horas era o meu máximo de horas dormidas por noite. Parecia que tinha dois jogadores de futebol na minha barriga. Quer dizer, de futebol não. Pareciam mais lutadores de boxe! Já sabia que os próximos anos se adivinhavam difíceis. Se já andavam a praticar boxe um com o outro dentro da minha barriga então quando fossem mais velhos. Terceira Guerra Mundial na casa Marinho. Começou-se a ouvir “Dream on” dos Aerosmith, era o meu telemóvel.
-Catarina?
-Sim Ana. Bom dia.
-Bom dia! Olha, estava a pensar, hoje fazemos um almoço aqui em casa, que achas?
-Por mim… Mas quem vai?
-Tu, o David, o Ricardo e a mulher e também os filhos, o Cristiano e a Irina mais o filho e o Tiago mais a mulher.
-Toda a gente então?
-Sim. O Kaká também deve vir mas ainda não falei com a Caroline.
-Ela de certeza que vem.
-Ah, mas precisava de ajuda.
-Claro, podes contar comigo.
-Então despacha-te. Vamos às compras.
-Está bem, dá-me vinte minutos então.
-Ok minha querida. Até já.
-Até já.
Levantei-me lentamente e fui tomar um duche rápido. Não estava nada apetecer sair de casa. Estava mesmo quase a deixar-me dormir e agora vinha um almoço. Aí a minha cabeça, as minhas costas. Já para não falar das minhas pernas. A barriga estava enorme. Já não era uma barriga de grávida normal, era um barrigão! Ao fim de quarenta minutos já estávamos no Supermercado às compras.
-Coca-cola?
-Isso faz mal, leva antes sumos naturais.
-Aí.. Eu que sou a médica não me preocupo com isso e tu…
-Sabes que viver com o David tem os seus pontos positivos e ele necessita de uma alimentação equilibrada e saudável. Ele não gosta muito de coca-cola. Quer dizer, gosta, mas ele diz que muita coca-cola faz mal e prefere um suminho.
-Que mariquinhas. O Cris deve querer beber Coca-cola.
-Leva um de cada e assunto resolvido. Até parece que não sabes que eles dão a volta a todas as bebidas.
-Lá isso é verdade. A Carol sempre vai?
-Sim.
-Então trás os sumos que o Kaká e o David parecem irmãos.
-Lá nisso tens razão. Então e o que fazemos para o almoço?
-Não sei… Que estavas a pensar fazer? A cozinheira és tu.
-Eu?
-Sim. Cozinhas tão bem!
-Ó, deixa-te de coisas. Estava a pensar num bacalhau à Brás.
-Concordo.
-Então pronto, vai ser isso. Vou buscar o bacalhau.
-Ok, eu vou buscar as batatas.
-Ok querida. Encontramo-nos na zona da fruta.
-Ok.
Fui andando para as batatas. Ana era uma óptima cozinheira. Toda a gente adorava os cozinhados dela, cada um era melhor do que o outro e Bacalhau à Brás era maravilhoso feito por ela! Enchia o saco cheio de batatas. Ouvia as pessoas a falarem espanhol, nem era muito complicado. Com o hábito conseguia-se compreender bem o espanhol.
-Catarina. – uma voz feminina com um sotaque bem português chamava-me. Parecia-me Ana.
-Ana, achas que…
-Ana? Catarina já não te lembras-te de mim? – Tinha sido interrompida, como ainda não tinha virado para trás para encarar a pessoa disse que era a Ana mas estava muito enganada.
-Luísa! O que estás aqui a fazer?!
-Que barriga grande, estás de quantos meses?
-Não tens nada haver com isso. O estás aqui a fazer?
-Catarina, Catarina. Tu já sabes que eu sei à quantos meses estás grávida. E sei que nestes meses é complicado. Qualquer coisa e podes pôr em risco a vida dos bebés sabes?
-Sai da minha frente. – Tentei sair da frente dela mas ela agarrou o meu braço impedindo que eu saísse da sua frente.
-Catarina, não faças nenhuma estupidez.
-Luísa, pára! Deixa-me ir embora.
-Não, não e não. Sabes que te ando a vigiar há muito tempo? É o fim.
-O fim? Luísa, tu pareces uma lunática.
-Ele é meu! Tu sabes bem disso. O meu namorado, é meu!
-Não passas de uma doida!
-Catarina, o que preferes. O teu sofrimento ou o sofrimento do David?
-Luísa pára! – Luísa dá-me um estalo no momento em que parecia que toda a gente se tinha ido embora.
-Cala-te – disse num ar em que a raiva lhe saía até pelos olhos. – Responde, o que preferes, o teu sofrimento ou o sofrimento do David.
-O meu sofrimento! Deixa-me ir! – Luísa abriu-me o caminho e deixou-me sair.
-Catarina, sabes que é tudo mentira. – Não respondi mas ela seguiu-me e continuou a falar – ele não te ama. É tudo uma farsa. Ele precisa de alguém para aparecer ao lado nas revistas. Como já te disse tenho andado a vigiar-vos  há muito tempo. Lembras-te quando eles foram para Barcelona jogar? Sabes o que é que o David fez lá? Encontrou-se comigo. Tivemos uma noite “caliente” em Barcelona, durante duas noites. A noite antes do jogo, ele estava tão nervoso, as suas mãos tremiam e senti ele a rebentar em mim. Foi extraordinário. Há quanto tempo vocês não dormiam juntos? Ele parecia um verdadeiro louco! No segundo dia já foi de felicidade, ele tinha feito um óptimo jogo. Foi algo mais intenso, mais puro. Incrível!
-Cala-te! Não acredito em ti! Nada!
-Então acredita porque eu estou grávida minha querida e o pai é o David!
-Não! Nada disso é verdade e eu não acredito! Eu sei como é o David e ele não me fazia isso.
-Queres um teste de paternidade? Está bem, eu faço um mas é verdade! Ele ainda não sabe mas preferi contar a ti primeiro. – Senti-me tonta, cada vez mais nervosa. Tremia por todo o lado e já não sabia por onde me virar. – Catarina, estás-te a sentir bem? Já devias saber que os jogadores de futebol são assim. Ao primeiro rabo de saia de aparece eles atacam e o David já teve muitos relacionamentos desses. – Senti um pontapé enorme, nunca tinha recebido um tão grande.
-Aí! Chama uma ambulância, rápido.
-Achas que isso vai acontecer? Quero a tua morte e dos fedelhos o mais rapidamente possível.
-Por favor, ajuda-me!
-Está bem. – Aproximou-se de mim e deu-me um empurrão que me fez cair de costas sem nenhum apoio.
-Catarina! O que estás a fazer! Quem és tu! Larga-a!
-Adeus Catarina, tic-toc, tic-toc.
-Catarina – gritava Ana chocada com a situação toda, eu dava gritos no meio do supermercado, as pessoas aproximavam-se. Senti sangue a escorrer. Agora já não gritava apenas, as lágrima caiam e a dor tornava-se ainda maior. – tem calma eu vou chamar a ambulância.

 

 

É impressionante como uma pessoa a morrer só se lembra daqueles que ama. A dor não importa. Nem temos tempo para nos lembrarmos o que é a dor. Pensava no David, na minha mãe, no meu pai, nos meus amigos, nos meu filhos. Não podia morrer. Se morre-se, como ficava David? E se tivesse um aborto? Seria eu que não conseguiria viver mais. Era sufocante. Nenhuma das duas soluções era boa. Ouvia os médicos falarem espanhol mas não conseguia perceber. Não conseguia distinguir as pessoas e finalmente ficou tudo calmo. Pensei que tivesse morrido mas não, o reboliço voltou quando senti um choque a percorrer-me o corpo.
“Qué hacemos doctor?” “” consegui perceber de fundo, não podiam perguntar nada a David. Não queria que ele decidisse nada. Estava nas mãos de Deus agora. O médico saiu da sala, ouvi a porta a fechar. Os outros continuavam feitos doidos na sala de roda de mim.


Sala de Espera:

(imaginem tudo em espanhol!)
-Doutor, como é que ela está?
-David, tu és o marido dela certo?
-Sim. – As lágrimas escorriam pelos olhos de David. Ana estava de rastos agarrada a Pepe mais atrás.
-A situação de Catarina não é boa David, os bebés vão nascer agora. Vão ser prematuros e não se sabe se algum deles tem algum problema. A Catarina já perdeu muito sangue, está cansada. Ela pode não sobreviver.
-Não! Não! – gritava Ana ao mesmo tempo que Pepe afastava ela de toda aquela confusão. Os gritos dela eram assustadores. Entravam na alma de qualquer pessoa. Kaká entrou pouco depois e ficou chocado com toda a situação, percebeu logo o que se passava e segui em frente para abraçar David que chorava desconsolado.
-David, não pudemos fazer mais nada. Temos que seguir em frente.
-Não há mais nenhuma opção?
-Nada David. Tenho imensa pena. Irei fazer tudo o que está a meu alcance. – o médico retirou-se e David rendeu-se. Sentou-se na cadeira e com os cotovelos nos joelhos e as mãos na cara.
-David, vai correr tudo bem. Vai correr tudo bem…
-Você não ouviu? Ela pode morrer! Ela pode morrer! Ela não pode morrer! Ela é me tudo. Se ela morre…
-Ela não vai morrer.
-E os bebés? A Catarina não vai aguentar. Se ela sobrevive e eles morrem, a Catarina não vai aguentar.
-David, vai correr tudo bem. Deus está com ela, Ele não vai deixar que nada de mal lhe aconteça.
-Ela não pode morrer meu irmão. Não pode.

Bloco operatório:

-Catarina, consegue ouvir-me?
Abanei a cabeça acenando que sim. As dores eram angustiantes, sentia vontade de rebolar cheia de dores mas qualquer movimento para a esquerda ou para a direita doía-me ainda mais.
-Vamos fazer o parto agora.
-Os bebés.
-Como?
-Salve os bebés, não se preocupe comigo. – A minha voz era fraca. Sabia que não ia sobreviver mas ao menos morria em paz, a Maria e o Pedro iam conseguir viver e ao lado do melhor pai do mundo. O médico sorriu e disse baixinho “Força”. Era possivelmente a última palavra que ia ouvir, força. Sempre pensei em morrer velha e ao lado do homem que amava, ao lado de David. Nada de isso ia acontecer, não ia ver os meus filhos a crescerem, não ia ser mãe, não ia comprar as suas primeiras mochilas, ouvir os seus primeiros amores, conhecer as namoradas do Pedro e os namorados de Maria. Não cantar os parabéns a eles e não podia dizer quanto os amava mas sei que David ia dizer isso tudo, ia ser um óptimo pai e isso deixava-me tranquila, em paz.

Sala de Espera:

-Ela não pode desistir! Não pode. Eu preciso dela a meu lado. Eu necessito dela. Eu…
-Tem calma David.
O médico apareceu e tirou  a máscara. Andou lentamente em direcção de David, já tinha passado quase duas horas. Kaká ainda não tinha saído perto de David mas agora também lá estava Pepe. Caroline tinha levado Ana para casa. Estava abaladíssima com tudo o que se tinha passado.
-David, os bebés estão ok mas… a Catarina…

 

 

 

Ouvi o choro de Maria e depois o de Pedro. Sorri, era mágico aquele momento. As dores desapareciam e sentia-me tranquila, as imagens apareciam na minha cabeça. Todos os da momentos minha vida. Desde as traquinices em pequenina, ao dia em que tive os meus filhos. O meu coração parecia bater cada vez mais lento até que parou. A dor desapareceu mas o amor permaneceu. Ninguém me podia tirar isso pois era a única coisa que me restava, o amor que sentia por David e pelos meus dois filhos.

Sala de Espera:

David, arrebatado com toda a situação entrega-se à loucura, gritos de angustia e chorava sem parar. Caiu de joelhos e rezava a Deus para que tudo voltasse a trás, para que Deus dê-se de volta a mulher que mais amava no mundo. Kaká tentou levantar o amigo mas era impossível. Pepe não sabia que fazer. Ao ver a tristeza de David, a desilusão daquele homem ao perder a mulher sentiu-se fútil e inútil para o mundo. Compreendeu que David era capaz de trocar tudo o que tinha conseguido até hoje só para ter Catarina nos seus braços. Para David nada mais importava, só a mulher da sua vida. Ele dava tudo para ter ela de volta, os títulos de campeão, os carros, as casas, as amizades já feitas e toda a sua riqueza. Sem conseguir levantar David, Kaká fica no chão com ele, agarra nele e dá-lhe um abraço.
-Isto não pode estar acontecer! Não pode!
-Tem calma meu irmão, Deus vai resolver toda a situação.
David não conseguia dizer mais nada, só chorava e dizia que toda a situação não podia estar acontecer. Que era um pesadelo. Para ele, Catarina estava em casa a fazer o almoço e quando ele chegasse ela ia começar a falar das dores de costas que tinha. Catarina não podia estar ali, Catarina estava em casa, não no hospital. Pepe acordou do seu estado de choque e agarrou David num lado e Kaká agarrou no outro. Puxaram ele para uma cadeira e sentaram-se ao lado dele.
-David! Olha para mim! Tens que ser forte! Por ela! Pela Maria e pelo Pedro. Você sabe bem o que ela queria. – Dizia Pepe, tentando tirar David daquele estado que ainda o deixava perturbado.
-O que ela queria? Ela tinha razão! Nunca devíamos ter saído de Portugal! Nada disto teria acontecido.
-Davi, lembra do que ela quer. Ela nunca queria ver você assim, chorando.
-Ela é tudo para mim, entende? Isto é… É demais para mim.
-Então e o Pedro e a Maria? Como é que eles vão ficar? – dizia Kaká – tem que ser forte!
David acalmou-se. Ele sabia que, o que Catarina mais queria era o bem dos bebés. Nada mais. As lágrimas continuavam a cair pelo seu rosto e os olhos estavam mais vermelhos que nunca, a cara pálida e o seu corpo tremia. Todos se calaram até que Pepe interrompeu o silêncio.
-É melhor falar para sua mãe. Ela já deve ter ligado duzentas vezes.
-Não consigo, não estou pronto.
-Quer que fale?
-Não é preciso. Eu já falo, só preciso de um momento. – O médico apareceu e sorriu para David. Já David não conseguia sorrir.
-David, quer ir ver os seus filhos?
-Claro. Pepe, faz um favor. Avisa o Ruben. – David levanta-se e vai atrás do médico sem dizer mais alguma palavra. Quando chegaram à sala, o médico mostrou quais eram os seus bebés dos vinte que deviam de estar lá. David olhou para a bebé que estava com uma manta cor de rosa. Tão pequenina, tão linda, tão frágil. Ao lado estava Pedro, igual à irmã. David sabia que em bebés todos os eles era iguais mas havia uma coisa que se distinguia entre os dois. Os pequenos narizes. Maria tinha o nariz da mãe, que era pequeno e redondinho, já Pedro tinha o nariz estreito. David sorriu, lembrou-se das palavras de Catarina “Quero que o Pedro seja a tua cara”. As lágrimas desciam pela face, ele não sabia se eram de felicidade ou de tristeza. Uma mistura das duas.
-David, devia de ir para casa, descansar um pouco. Eles precisam de um pai a 100%.
David acenou a cabeça e pediu para ficar mais um pouco com eles. Olhava para a Maria e só pensava na Catarina. Era tão perfeita, os pezinhos e as mãozinhas pequeninas. Sem saber o que fazer David começou a falar para Maria.
-E agora? O que eu faço? Não sei de nada. Sua mãe é que… Ela é que ia cuidar de vocês, ia dar-vos comida, levar-vos à escola, falar de tudo com vocês. Eu não sei nada disso, nada! Tudo se vai resolver, não se preocupe Maria. Será… Será que também tem os olhos de sua mãe? São tão lindos os olhos dela. Eu vou cuidar de vocês. – David ficou a olhar para os dois pequenos bebés que tinha a seu lado. Os próximos anos eram dedicados a eles, só eles importavam. Olhou para o pequeno pé de Pedro e viu a pequena etiqueta com o nome do bebé. “Pedro Marinho”. – Vocês são os meus filhos… Onde está a vossa mãe? Eu preciso dela. Eu necessito dela aqui, agora. – dizia David ao mesmo tempo que a tristeza voltava a provocar lágrimas.

 

Kaká levou David a casa. Vieram o caminho todo em silêncio. Já era tarde, David não tinha comido nada e já estava na hora de jantar.
-David, vem comer lá a casa.
-Não Ricardo, eu preciso de estar sozinho.
-Não faz nada de parvo Davi.
-Não faço. Obrigado Ricardo.
-Vai com Deus.
David abriu a porta e colocou as chaves no móvel à entrada. No móvel estava uma foto de Catarina com David, os dois juntos com David abraçar Catarina. David agarrou na foto e levou até a cozinha. Não tinha fome, mas sabia que tinha que comer. No frigorifico estava um papel com uma nota lá escrita. “Meu amor, o almoço hoje vai ser na casa do Pepe. Fui com a Ana às compras. Quando chegares vai lá ter. Amo-te”. Agora David tinha perdido toda a vontade de comer, era a última coisa que ele queria. Puxou uma cadeira e ficou a olhar para o papel que estava nas suas mãos. David chorava mais uma vez, continuava a não acreditar que Catarina estava no hospital em coma profundo. Os médicos diziam que ela podia acordar daqui a uma semana como só podia acordar daqui a vinte anos ou então podia nunca mais acordar. Iria ser ele a cuidar de Pedro e de Maria até Catarina acordar mas o que David mais queria era que Catarina acordasse. Embora David amasse os filhos, ele sabia que não era capaz de viver sem Catarina. David agarrou na foto e levou para o quarto, deitou-se na cama onde se deitava todas as noites com Catarina. Fechou os olhos e deixou-se dormir. No dia seguinte acordou com a campainha a tocar, levantou-se e à porta. Na porta estavam dois policias que queriam pedir algumas informações a David sobre “Luísa Ferreira”.
-Porque querem saber da Luísa?
-A Sra. Catarina estava no supermercado com a Sra. Ana Sofia e ao que apuramos pelo interrogatório que fizemos com a Sra. Ana, a Sr. Luísa Ferreira estava junto dela. Vimos as imagens do supermercado, das cameras de vigilância e demos conta que Luísa Ferreira teve uma discussão com a Sra. Catarina.
-O quê?
-Podemos entrar para falarmos com mais calma?
-Claro, claro. – nisto Rúben bate à porta. – Por favor entrem e sentem-se na sala. Estejam à vontade.
-Obrigado. – David vestido com umas calças de fato-de-treino cinzentas e uma blusa comprida branca vai ao encontro de Rúben.
-Mano! Tem calma, estás bem? – David dá um abraço a Ruben e começa-lhe a contar o sucedido.
-Ruben, foi a Luísa.
-Hã?
-Entra, a policia quer falar comigo.
-Ok.
Ambos entraram na casa, David limpou os olhos e dirigiu-se para perto dos policias. Estavam os dois em pé à espera de David.
-O que é que a Luísa tem haver para a história?
-Como já lhe dissemos, a Sra. Luisa teve uma discussão no Supermercado com a Sra. Catarina e a Sra. Luísa chegou a dar-lhe um estalo e depois, já no final, deu-lhe um empurrão. A Sra. Catarina caiu e depois apareceu a Sra. Ana. Qual era a relação entre elas?
-Aquela cabra! A culpa é dela! Ela vai ficar à solta?! Como é possível!
-David, tem calma.
-Calma Ruben? Acabaste de ouvir o que eu ouvi?! A Luísa pôs em risco a vida dos meus filhos e por causa dela a Catarina está em coma!
-Sr. David precisamos da resposta. Qual era a relação entre elas?
-Não havia relação nenhuma entre elas. A Luísa é uma doida. Eu tive um relacionamento com ela mas não durou nem sequer uma semana. Ela começou a seguir-me e já fez coisas anteriormente. Nunca pensei que isto fosse acontecer! A culpa é toda minha.
-Mano, estás a gozar só pode? Como é que a culpa pode ser tua? Essa gaja é que é doida.
-O que vai acontecer agora?
-A Sra. Luísa vai ser acusada de Tentativa de Homicídio, mas ainda precisaremos de falar consigo. Entretanto, tenha cuidado com os seus filhos e restante família, ainda não capturamos a Sra. Luísa. Nós entraremos em contacto consigo, com licença.
David acompanhou os policias à porta e depois ficou sozinho com Rúben.
-Como estás?
-Nem eu sei meu irmão. Nem eu sei. Esta situação toda…
-O Pepe avisou-me ontem. Os putos estão bem?
-Sim.. A Maria e o Pedro nasceram se qualquer problema. São prematuros e vão ter que passar as duas primeiras semanas no hospital mas o médico diz que eles vão ficar bem.
-E a Catarina?
-Coma, não se sabe quando irá acordar. Meu irmão, eu não sei o que fazer… Eu não consigo viver sem ela aqui ao meu lado! Como vai ser depois? Ela precisa de acordar. Não sou capaz de fazer tudo sozinho… 
-E não vais fazer tudo sozinho, tens me a mim, a tua família. Vai ficar tudo bem.
-Todas as pessoas dizem isso mas a verdade é que não se sabe. Ela pode nunca mais acordar!
-Mas ela vai acordar. Não penses assim dessa maneira.
-Não dá. Você não imagina como estou. É como se tivessem acabado com o meu mundo.
-David, tem calma. Ela vai acordar. Ela não te ia deixar sozinho não achas?
-Eu espero que não.
-A tua mãe vem para cá amanhã. Ela vai apanhar o avião hoje.
-E tu, quando tens que voltar?
-Hoje, tenho avião marcado para as dez da noite. Mas se quiseres posso pedir ao mister para ficar cá mais algum tempo.
-Não. Não é preciso. Em que lugar vai o Benfica?
-2º. Estamos a um ponto do Porto. Vai ser um ano complicado. Mas interessante a Catarina não ter-te dito nada. Ela todos os fins-de-semana manda-me mensagens a dizer para nós ganharmos.
-Ela não fala do Benfica aqui em casa. Por causa do Real… Ela dizia que o melhor era não falar de Benfica se não a conversa acabava mal.
-Ela não gosta nada do Real pois não?
-Não… Ela vai aos jogos sem ter nada do clube e eu já lhe ofereci! Mas nada… Diz que é uma traição ao seu clube.
-Mas ela tem uma blusa do Arsenal…
-E do United. Ela diz que todos os clubes que gosta, têm vermelho. O Benfica é o seu grande amor e depois tem preferências.
-Essa Catarina…
-É perfeita, nunca se importa com o dinheiro… Só comigo. Ela tinha razão. Foi um erro vir para aqui…
-Achas que isto não acontecia lá?
-Claro que não.
-David, se a Luísa veio até Madrid para tentar acabar com vocês os dois também ia a Lisboa…
-Mas teria sido diferente. Ela sofreu muito aqui já. E agora está em coma. – David levanta-se e dirige-se para o quarto – Vou vestir alguma coisa, depois vamos ver como é que a Maria e o Pedro estão.
- Vai, eu fico aqui à tua espera.
Ruben começou a olhar para as fotos. Catarina e David, ficavam tão bem juntos e o quanto amigo tinha ficado de Catarina. Ela tinha apoiado ele muito na tentativa de relação entre ele e a Inês mas não se concretizou, mais tarde conheceu Sara que demonstrou ser a rapariga perfeita para ele. É impressionante como é que uma pessoa pode alterar a vida de tanta gente. Ruben e Gustavo iam ser padrinhos de Maria, Ladislau e João padrinhos de Pedro. Isabella e Lúcia madrinhas de Maria e Regina e Manuela madrinhas de Pedro. David dizia ser feliz só ao lado de Catarina.  Era algo extraordinário.
-Não deixes o David sozinho Catarina… - dizia Ruben num desabafo para si próprio.

**

Quarto de Hospital:

Era a primeira vez que David estava com Catarina. Ligada a monitores e com um tubo para respirar melhor no nariz, Catarina ainda estava em coma. Estava pálida e com grandes olheiras. David sentou-se a seu lado. Ruben estava à espera de David na sala de Espera. Preferiu dar alguma privacidade a eles os dois. David olhava para Catarina e fazia carícias na pele. Tentava não chorar. O médico entrou no quarto e David olhou para ele. O médico bem viu os olhos vermelhos de David, embora tivesse habituado a lidar com situações daquelas, tinha ficado chocado com a reacção de David.
-Bom dia.
-Bom dia.
-Como está? Mais calmo?
-Sim… E ela?
`-Está estável.
-E quando vai acordar?
-Sr. David, é impossível saber isso. Ela pode acordar já amanhã como pode só acordar daqui a uns anos.
-Isso não pode acontecer. Eu preciso dela. O que vai ser da Maria e do Pedro?
-Sr. David, eu sei que pode parecer estranho mas fale com ela. Falar ajuda muito e há pessoas que acreditam que eles ouvem o que nós dizemos. Por isso, fale. Até você fica melhor. Ajuda
imenso.
-Vou tentar.
-Venho mais logo ver como está. Até logo.
-Até logo.
David ficou a olhar para Catarina, tão quieta. Parecia estar a dormir normalmente.
-Catarina, se me conseguires ouvir, por favor acorda… Eu preciso de ti. Que estupidez, você não me vai ouvir. Se quando você dormia tinha um sono pesado quanto mais agora… - fez uma pausa e voltou ao seu discurso depois de um suspiro – Eles são lindos você sabe? Perfeitinhos. O Pedro parece ter um nariz igual ao meu e a Maria igual ao seu. Eu ainda não acredito que a Luísa fez-te aquilo tudo. Tu és forte. Vais superar isto tudo, tenho a certeza. Amanhã tenho que ir fazer o registo. Eu sei que gostavas que o Registo fosse feito em Portugal mas vai ter que ser assim… Ao menos é engraçado, uma portuguesa, um brasileiro e dois espanhóis. Por favor, não fica chateada comigo. Ah, acho que você fez capa de jornais em todo o lado e revistas e todas essas coisas. Tem que acordar para se chatear com eles. Fazer uma revolução qualquer. Nunca escolhemos o segundo nome dos bebés. Pedro Luiz era o que você queria não era? Fica horrível… Pedro Eduardo… Ainda pior. Pedro… Pedro Filipe? Não. Isso ia pôr o Manz todo convencido. Pedro… Samuel? E Pedro Gabriel? “Pedro Gabriel Silva Marinho”. Não fica mal de todo e tem o Gabriel que você queria. Ou então Pedro Miguel. Chegou a falar desse nome. E a Maria? Eu gostava que fosse Catarina Maria. Ficava melhor… “Catarina Maria Silva Marinho”. Você vai-me matar se eu fizer isso… Maria Inês? E Maria Gabriela? Aí… Você está a dificultar as coisas. Maria Catarina não fica bem… Maria Alice! Fica bonito não acha? Amor, você tem que me ajudar. Se eu nem consigo escolher o segundo nome sozinho quanto mais educa-los. Necessito de você… Amo-te tanto.

 

U

 

 

-Bom dia meu anjo. Como é que você está? Tem que sair desse coma. Os meninos precisam da mãe. A Maria está tão linda. A minha mãe diz que ela vai ter um cabelo igual ao meu. Já imaginou? Ela vai ser linda. O Pedro é um reguila. Compramos uma “aranha” para ele e ele está sempre lá a saltar. Também já dá os seus pontapés na bola. Salta e dá um pontapé. É tão querido de se ver. O cabelo dele é loirinho. Os olhos deles são iguais aos seus. Iguaizinhos.  Eu olho para eles e vejo você. Tenho tantas saudades. Amanhã fazem sete meses. Era bonito se a mãe acorda-se. Eles amanhã vêm cá ver você. A minha mãe mandou-lhe beijinhos e meu pai também. A minha irmã foi-se embora ontem. Ela deve ter vindo cá, as flores são diferentes. Não ouviu nada do que ela disse sobre mim está bem? Eu admito que passei muito mal nos primeiros dois meses mas fiz o que você queria, que vivesse a vida e tomasse conta dos nossos filhinhos. Eu vou o fazer e vou estar sempre aqui, à sua espera. Eu não lhe queria falar disto porque você poderia ficar triste mas seu que irá ficar chateada se não contar. A minha mãe, ela esteve sempre aqui e eu passei muito mal Catarina. Você… Você é muito importante para mim. Embora ame imenso os meus filhos eu amo mais a você. Você alterou completamente a minha vida. Desde do dia em que te vi, ouviu moça? Mas eu estou bem. Voltei a ser eleito na selecção do Brasil e já sou titularíssimo na equipa principal do Real. Peço desculpa por nunca ter dito nada a você. Mas, custa-me tanto estar aqui a olhar e a falar para você sem você se mexer. Custa-me tanto. Quando é que Deus me manda você de volta? O que fizemos de mal? Será que fomos muito rápidos? Eu não acho porque, eu amo mesmo você. Se calhar, isto é um teste. Mas nós vamos passar, nós vamos passar. Eu vou ser forte. Agora, boas noticias, a Luísa foi presa durante 7 anos. Nunca mais vai-nos incomodar. Quando ela for solta, eu contrato dez guarda-costas só para você e para o Pedro e a Maria. Mais boas notícias, ontem ganhamos. 5-0! A equipa também era fraca, era para a Taça do Rei mas para a semana jogamos contra o Barça. Vai ser um óptimo jogo, com a ajuda de Deus vamos ganhar, espero. Mas eu sei que você não quer ouvir do Real. É o Benfica que você quer ouvir não é? Bem, não tem estado fácil para eles. Perderam contra o Porto e empataram contra o Guimarães. Você sabe como é os jogos fora contra o Guimarães. E o Rúben está triste não é? Ele não houve ninguém a desejar-lhe sorte antes dos jogos e a dizer o que é que ele fez de errado depois do jogo. Para além disso, você tem de acordar mesmo! Ele foi viver com a Sara e quer pedir ela em casamento mas não o faz porque quer que você esteja no casamento. Tem mesmo que acordar. Bem meu amor, eu volto mais logo. Tenho que ir para o treino. Por favor. Acorda. Eu amo você.

As enfermeiras continuavam impressionadas. David continuava a visitar Catarina, duas ou três vezes por dia. Nunca elas esperavam que ele fosse assim mas ao verem a dor que ele sentia por ver a mulher dele deitada numa cama sem dar qualquer tipo de reacção deixava-as quase em pânico. No inicio diziam que era desespero de um menino rico, agora chamavam aquilo “um grande amor”. David já sabia o nome de algumas e elas falavam com ele não como se ele fosse um jogador de futebol mas como se ele fosse uma pessoa normal mas triste e com uma única razão de viver. Os filhos. E apenas por causa de Catarina, porque David tinha passado os dois primeiros meses muito mal. No primeiro mês dormiu quase sempre no hospital, no quarto de Catarina num sofá que as médicas tinham arranjado. No segundo toda a gente teve medo, David tornou-se distante e vestia quase sempre calças de fato de treino pretas com uma blusa preta. Passava parte do seu dia no hospital e era revoltado para o mundo mas num dia isso tudo mudou. Acordou e vestiu uma camisola branca com umas calças de ganga, deu um beijo à mãe, ao pai e aos filhos e disse que ia para o treino pois já estava atrasado. Tudo aquilo por causa de um sonho que David tinha dito que tinha tido. Um sonho que ele nunca tinha revelado o que era mas que tinha sido o suficiente para David acordar para a vida. A mãe pensava que tinha sido Deus mas não foi Deus mas Catarina que apareceu no sonho de David a pedir para ser pai e mãe de Pedro e Maria e não se preocupar que um dia ela ia acordar. A partir daí tudo melhorou. Durante meses revistas fizeram capas e capas de jornais à cerca do estado da família Marinho. Uns diziam que David andava metido em drogas e tinha até desistido do futebol, que não ligava aos filhos e outros até diziam que já tinha esquecido Catarina e os bordeis eram lugares habituais para a sua nova vida. Tudo isto contribuía para a infelicidade de David mas algo estava a dar-lhe força e ele nunca iria desistir.


10 de Maio, última jornada que iria decidir o campeonato espanhol entre Barcelona e Real Madrid. (em Barcelona)

“É o último jogo e a equipa de Ronaldo e companhia poderá ganhar este campeonato. Impressionante este campeonato. Emoção até ao fim.
Pois é João mas mais impressionante é o número de golos que o Real Madrid sofreu. 9 golos sofridos! Impressionante. A dupla de centrais, Ricardo Carvalho e David Luiz é espectacular.
Impressionante a força desse miúdo, foi pai de gémeos e a mãe ainda está em coma e continua a fazer óptimos jogos. Para além disso, David marcou 6 golos!
E todos dedicados à Catarina, mulher de David.
Bem verdade, sem dúvida, o menino dos caracóis merece este prémio e merece também tudo de bom na vida dele, que a Catarina melhore.
E agora o jogo vai começar!”

Madrid:

Breathe in, Breathe out.
Respira, expira. Tentava abrir os olhos mas não conseguia. As luzes eram demasiado fortes. Tentava mexer-me mas sentia todo o meu corpo dorido. Tentava gritar mas era inútil. Faltava-me voz, faltava-me força. Mexi os dedos, perguntava-me quanto tempo tinha passado. Um dia, dois dias? uma semana? meses? Anos? Como estariam os meus filhos? E o David? Como estaria? Mexi um dedo, uma mão e tentava lentamente mexer o braço. Consegui mas com muito esforço. Devia ter passado muito tempo, parecia que os músculos tinham desaparecido. Uma enfermeira entrou no quarto, mal viu a minha mão a mexer voltou para trás e chamou o médico. Em poucos minutos o quarto estava cheio. Levantaram a cama e deram-me um pouco de água. Sorri. Acho que era a única coisa que conseguia fazer.
-Tente falar Catarina. – tinha medo, não sabia como estava a minha voz.
-Onde está o David? – A voz saiu grossa e doía falar.
-Vamos já telefonar.
-Como está a Maria e o Pedro?
-Saudaveis, não se preocupe. Agora você é o mais importante.
-Quanto tempo estive aqui?
-Vamos com calma Catarina..
-Quanto tempo?
-7 meses.
Respirei mais depressa. Senti-me mal disposta. Tanto que tinha perdido. O que me teria acontecido.
-Eu preciso de sair daqui, eu preciso de…
-Tenha calma, descanse. Tudo vai correr bem.
Eu queria sair, eu tinha que sair mas era inútil. Não tinha forças. Embora tivesse dormido durante 7 meses sentia-me cansada. Queria dormir, mas não podia. Apenas não podia.  Os meus olhos fechavam-se lentamente, eu tentava ficar acordada. Olhava para a porta à espera que David entrasse a qualquer momento. Nada. Nem o David nem qualquer outra pessoa conhecida. Só médicos e enfermeiras. Sem querer, deixei-me dormir.

Barcelona:

“Faltam dois minutos para o jogo acabar e as equipas continuam empatadas a uma bola. Impressionante este jogo. As equipas estão a dar o máximo. Um duelo não só entre os melhores treinadores, como pelos melhores avançados do mundo e os melhores centrais do mundo.
Exactamente. Um jogo que vale a pena ver. E agora vai David Luiz numa arrancada, passa para Ronaldo, Ronaldo tenta em Higuain e… Que fantástico corte de Puyol! David agarra a bola, passa a Di Maria, o puto maravilha do Real, finta um, finta dois, nem o Daniel Alves o pára! Cruza e David, David, David, David, chutaa!!!! GOLO!!!! GOLO DO REAL MADRID! DAVID LUIZ NUM ESPECTACULAR REMATE! SEM DÚVIDA, QUE CLASSE, QUE JOGADOR! NEM PARECE DEFESA-CENTRAL! LINDO! GOLO!!! E acabou meus senhores! Sem dúvida! Lindo jogo, espectaculares os jogadores e fantásticos os golos. E o titulo de campeão é do Real Madrid e com assinatura de um Benfiquista!”

 

 

 

Estádio do Barcelona:

A festa era enorme, David estava de joelhos no chão a rezar e chorar, pedindo a Deus para a Catarina acordar.
-Meu irmão! Somos campeões! Campeões!!
-Eu sei, agora só falta a Catarina acordar.
-Ela vai acordar, Deus tem isso nos seus planos.
-Espero que sim.
A festa continuava, os jogadores festejavam com apenas os dez mil adeptos que tinham vindo de Madrid até Barcelona ver o jogo. Cantavam, pulavam e gritavam. Nem sabiam bem o que diziam mas uma coisa era certa, havia uma felicidade imensa entre eles. Os jogadores foram chamados para recolherem ao balneário, a festa iria continuar mas em Madrid. David embora estivesse mais que radiante pensava ainda em Catarina. Mal chegou ao Balneario procurou o telemóvel ainda com uma réstia de esperança de encontrar uma mensagem ou chamada de alguém que lhe pudesse dizer que Catarina tinha acordado. “54 mensagens e 38 chamadas não atendidas”.
-É cara! Tantas mensagens! Você é famoso não? – Todos mandaram risada dentro do Balneario, o pequeno Marcelo era assim, coscuvilheiro e divertido.
-É, são de facto muitas… Ainda mais chamadas… Deixa cá ver de quem são.
David começa a correr para todas as chamadas não atendidas mas apenas quatro nomes saltavam à vista “Mãe, Rúben, Gustavo e Pai”.
-Epá, azar né David? Só uma mulher e é sua mãe…
-A Catarina acordou!
-Hã?!
-Só pode ser isso! A minha mãe, o meu pai, o Ruben e o Gustavo terem telefonado tantas vezes! Foi disso. A Catarina acordou!! Tenho a certeza.
-David, meu… Tem calma… Telefona à tua mãe... – Dizia Cristiano, não querendo desmotivar o colega mas ele sabia que, se a Catarina não tivesse acordado, David ia ficar completamente desolado e hoje era dia de festa.
-Sim, sim.. Vou já fazer isso… - David marca o número depressa e ouve os “pip’s” das chamadas. – Vai mãe, atende!! Tô?! Mãe! Por favor, diz que a Catarina acordou!
“Meu filho! Acordou sim! Como soube?! Estamos todos à sua espera! Ela está no hospital e já perguntou por você!” – dizia a mãe do David com alegria.
-Vou indo mãe!! Duas horas e estou aí! – David desligou e virou-se para a equipa – Ela acordou!!
Todos saltaram como se tivessem a fazer a festa de campeões. Saltavam para cima de David, abraçavam-lhe, até lhe deram beijos (o Marcelo claro). David sorria e agradecia a todos. Era a melhor notícia que podiam ter dado a David.
-‘Bora lá malta. Toca a despachar. Tenho que ir ter com a minha mulher!

Ao fim de três horas, Madrid:

-David! Ainda bem que chegou!
-Mãe, pai!
-Parabéns filho, foi campeão.
-Isso não interessa para nada pai, onde está a Catarina? E o Pedro e a Maria?
-Ela está no quarto a descansar. Eles ficaram com a Ana, ela ofereceu-se para tomar conta deles.
-David, ainda bem que chegou. Tenho uma paciente saiu agora do coma e não descansa enquanto não falar com o marido. Julgo que seja a sua esposa… - Dizia o médico feliz pelo Real Madrid ter sido campeão e por Catarina ter acordado.
-Sim doutor, é sim. Posso falar com ela?
-Terceiro quarto à direita.
-Obrigada.
David correu até à porta e sem mais nem menos abriu. Catarina estava sentada na cama a olhar para duas fotos com os olhos vermelhos, tudo indicava que estaria a chorar. As duas fotos que David tinha deixado na mesinha de cabeceira, uma deles os dois e outra do David mais a Maria e o Pedro.
-Catarina… - dizia David num suspiro e corria para junto dela. Deu-lhe um beijo apaixonado e abraçou-a, apertava-a junto do seu corpo e as lágrimas escorriam na cara de ambos.
-David… Desculpa… Eu não…
-Pshiú… Você nem mesmo depois de estar em coma tanto mês é incapaz de não se culpabilizar! Tive tantas saudades tuas, passou tanto tempo. As lágrimas caiam nas nossas faces, ainda estávamos abraçados e David beijava-me. Não sabia o que sentia, não tinha saudades porque para mim pouco tempo tinha passado mas sabia que algo de estranho se tinha passado. Era como se soubesse que tinha estado sete meses em coma e mesmo em coma, sabia o que David tinha sofrido.
-Como estás? Não merecias nada disto David, nada.
-Já passou, já passou tudo.
-Foste campeão?
-Hã? Como sabe disso?
-O médico contou-me. Mas eu já sabia. Sentia-o.
-Afinal você sempre ouviu!
-O que?
-As conversas, eu vinha aqui falar sempre com você.
-Amo-te tanto… Como é que não desistis-te de mim?
-O meu amor por você é maior que tudo. Por ti vou até ao fim do mundo, luto contra tubarões e tigres e enfrento todos os homens deste mundo. Por ti, só por ti.
Era impressionante ouvir o David a dizer isto. O sentimento que ele dava as palavras. Amava-o não muito, não daqui até à Lua. Era complicado dizer o quanto amava mas sabia de uma coisa, amava-o cada vez mais, a cada dia que passava. A todos os segundos descobria uma coisa nele que me fazia ama-lo mais.
-Só te quero ver fora deste hospital, mais nada. Você precisa de conhecer os seus filhos. São lindos. Têm os dois os seus olhos.
-E a Maria os teus caracóis!
-Pois é… Tem que ver eles. Eles olham para as suas fotos e batem palmas. Eles sabem que você é a mãe deles.
As lágrimas vieram-me aos olhos, não queria acreditar que os meus filhos só me conheciam por fotos. Era cruel.
-Não fica assim amor…
-Eles não me conhecem David, como achas que será? Tiveste que tomar conta deles este tempo todo. Como ficaste? O que se passou?
-Eu fiquei bem… Houve muitas revistas que inventaram muito sobre nós mas é tudo mentira. Eu sempre te fui fiel e nunca pensei noutra coisa a não ser em você sair desse maldito coma. Passei um mau bocado mas, você mesmo no hospital me deu forças.
-O que aconteceu David? Estás-me a esconder algo. Conheço-te demasiado bem.
David olhou para o chão e fez uma cara feia. Agarrou-me nas mãos e olhou-me nos olhos. Disse baixinho “Estou aqui, estou bem…”. Senti o meu coração apertar, passavam-me montes de pensamentos pela cabeça. Cada um pior do que o outro. A respiração tornava-se pesada e pesada, entrava no meu pequeno mundo, como se estivesse a regredir e a voltar ao coma. Fui interrompida pelo médico a bater à porta.
-Boa noite. Como está Catarina?
-Bem, obrigada.
-Quando é que ela pode ir para casa doutor? – dizia David com um sorriso de orelha a orelha.
-Calma… Ainda temos que fazer exames mas julgo que mais uma semana e pode ir.
-Mais uma semana?!
-David tem calma.
-Sr. Luiz, não espere que é fácil. Os próximos meses serão muito importantes. Precisa de recuperar a massa muscular.
-E também de começar a ser mãe a tempo inteiro. Humm… Já preciso de umas férias e nem sequer agora comecei.
-Você vai melhorar. Bem, vou deixar-vos um pouco à vontade. Sr. Luiz, apenas mais 10 minutos.
-Só!?
-Não reclame. Já viu as horas que são? Tem muita sorte em puder estar a fazer a visita a estas horas.
-Ok, ok. – O médico saiu e deixou um pouco da porta aberta, como se fosse um aviso para o David sair. – Eu hoje já disse que te amo?
-Sim, mas podes dizer outra vez que eu gosto de ouvir.
-Eu cá não oiço nada disso…
-Eu não preciso de dizer. Eu posso transmitir. – Dei-lhe um beijo suave nos seus lábios macios. Parecíamos miúdos. Ups, nós éramos miúdos mas já com tantas responsabilidades.
-Eu cá gosto disso sim!
-Ainda bem porque quero passar o resto da minha vida a faze-lo.
-Te amo tanto. Não há palavras para exprimir o que sinto agora!
-Nem eu meu amor. Nem eu…

O Real Madrid campeão, eu acordei, tinha dois filhos, o melhor marido do mundo. O drama tinha passado. Esperava algo bom para o próximo anos junto do homem que mais amava.

 

 

publicado por acordosteusolhos às 22:51

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