31
Ago 10

A semana passava lentamente. Na terça o David deu-me a notícia que precisavam alguém que ajudasse nos eventos do clube. Um tipo de relações públicas. Eu aceitei logo. Na quarta de manhã fui ao Hospital da Luz, com a cunha de David claro e vi fazerem dois testes. O primeiro foi há procura de células cancerosas e o segundo foi um teste de gravidez. O doutor que estava lá era um simpático, disse-me tudo o que precisava saber e para além disso algumas dicas. À tarde fui trabalhar. O meu horário era das dezasseis horas até às dezanove e meia (outra vez, cunhas do David). No primeiro dia não fiz rigorosamente nada. Tiveram-me apenas apresentar a casa. Até que, às dezanove, quando estava para me ir embora vi uma discussão.
-Não queres apresentar o jornal das vinte e uma não apresentas! Mas não esperes nenhum aumento depois disto!
-Também ia fazer o jornal sem aumento! – A rapariga vira as costas e vai-se embora, o homem irritado dá um pontapé no caixote do lixo e virou-se para mim.
-Olá. Desculpa, és nova aqui não és?
-Sim sou.
-Namorada do David.
-Sim.
-Eu sou o director da BenficaTV. Já pensas-te em apresentar um programa?
-Um programa?
-Sim.
-Não…
-Estás a trabalhar com quem?
-Sou assistente de uma senhora chamada Maria da Conceição. Da parte de organização e Marketing.
-Da Maria? Óptimo. Vou dizer a ela que vais para aqui, até lhe faço um favor, a ela e a ti. És a nova apresentadora do jornal das vinte e uma. Começas amanhã.
-Hã?
-Às vinte horas aqui na BenficaTV. Ok?
-Ok… - O tal director da BenficaTV virou as costas e foi-se embora. Ainda estava parva com aquilo tudo. Eu ia apresentar um programa da BenficaTV. Não ia recusar, era um trabalho espectacular e devia-se ganhar bem. Para além disso eram só umas horas e à noite. Era o trabalho perfeito. Tirando o facto que ia trabalhar em directo e para milhares de pessoas. Fui-me embora ainda um pouco incrédula. Cheguei a casa eram dezanove horas e quarenta e cinco minutos e o David já tinha chegado, fiquei ainda mais incrédula.
-Olá amor. – Disse quando abri a porta de casa.
-Olá! Então como correu o dia? – Deu-me um beijo grande, já não o vi-a desde de manhã.
-Cansativo, estranho e também correu muito bem por acaso.
-Conta!
-O que dizias se eu fosse apresentar o jornal das vinte e uma da BenficaTV?
-Dizia, o quê?!
-Amor, vou apresentar o Jornal das vinte e uma.
-Hã?
-Sim, convidaram-me.
-E você aceitou?
-Sim mas antes queria ver se não te importavas.
-Claro que não! Que bom meu amor! – Abraçou-me e deu-me outro beijo – mas há um problema.
-O quê?
-Tenho fome!
-Para variar! Vou fazer uma comida.
-Faz uns bifinhos com natas e cogumelos.
-Está bem.
A conversa continuou, fomo-nos deitar e no dia seguinte tive que sair cedo. Dei-lhe um beijo na testa e fui para a universidade. Faltava só mais este ano para o curso acabar e estava ansiosa para arranjar emprego. Já chegava de exames e de relatórios. Era tudo muito complicado. Sai da universidade às quatro, decidi ir para a biblioteca para fazer o relatório das experiências. Já tinha quase tudo feito em vinte folhas que tinha num caderno era só copiar.
-Olá. – Baixei o computador e vi quem era. Um rapaz que eu tinha uma paixão no décimo ano.
-Olá Rui! Há tanto tempo!
-Eu sei! – Levantei-me e abracei-o – Como estás? Agora namoras com o David hein!!
-Estou óptima! Sim, e tu? Continuas com a Patrícia?
-Não, acabamos.
-A sério? Quando?
-À um ano.
-Pois, então e depois?
-Só curtes e assim, nada de sério.
-Estou a ver – era esta uma das razões que eu deixei de gostar dele. Era um miúdo irresponsável e sem cabeça. Tinha namorada e andava com outras raparigas. Irritante.
-Queres ir sair?
-Eu? Estou a fazer um relatório…
-Vá anda! Vamos beber um café ou assim!
-Não gosto de café – Nunca mais se ia embora.
-Catarina… Não sejas assim.
-Assim como?
-Dificil!
-Tenho que te apresentar uma amiga minha. Perfeita ti!
-Porquê? Não és tu que és perfeita para mim? Era o que as tuas amigas diziam.
-Achas que com dezasseis anos nós sabemos alguma coisa da vida?
-Eu sabia.
-Ó, poupa-me! Dizias que sabias o que era o amor e tinhas feito sexo com umas raparigas.
-Então e tu? Tu andas-te com um gajo que te pôs os cornos e ficas-te com trauma que só depois, passados três anos voltas-te a sair com um.
-Não queiras que esta conversa acabe mal.
Ele levanta-se da sua cadeira e agarrou-me no braço.
-Ouve-me, tu é que vais acabar mal com esta conversa – outra razão, deixei de gostar dele. Agressivo e irritava-se facilmente.
-Larga-me!
-Hey! Larga ela! – Chegava o David nesse preciso momento. Agora é que isto ia dar para o torto. – Catarina agarra nas tuas coisas. – Nem pensei duas vezes. Fechei o computador e agarrei no meu caderno e na minha mala.
-Olha o namoradinho. Só me faltava cá este.
-Vamos embora Catarina. – David tentava-se controlar, ele escolhia ir sempre pelo bem mas o que era demais era demais.
-Olha que este é demasiado bom para ti. Vai te por os cornos também Catarina. – David que estava virado de costas para ele vira-se de repente para ele.
-Vai-te embora.
-Sabes Catarina, ele aproveita-se de ti, quando chegar uma proposta boa ele vai-se embora e deixa-te aqui. Sozinha e abandonada. Ouve o que te digo. Estes gajos só querem uma coisa. Sexo. – David mordeu o lábio, tinha que o tirar daí, já sabia o que vinha a seguir.
-David vem! Por favor!
-Você está calado rapaz? O que sabe da vida? Vai embora!
-David! – Ele olhou para mim, eu agarrei na mão dele e levei-o da biblioteca.
-É isso Catarina, vai-te embora. Mas não te esqueças no que eu te disse.
Saimos da biblioteca e fomos para o jardim mais, a uns metros da biblioteca mas sentamo-nos num banco escondido.
-Como soubeste que estava na biblioteca?
-Sabia que gostavas de estar na biblioteca para fazer trabalhos então vim ver-te mas isso não interessa! Quem era aquele?
-Um rapaz que eu tive uma paixoneta aos dezasseis anos. A conversa começou bem e acabou mal.
-Estou a ver.
-Tens que ter mais calma.
-E tu? Quando foi com a Luísa? Tiveste calma?
-Não. Mas… David, não era preciso reagires daquela maneira.
-És a minha mulher… Não podia ficar para assistir.
-Nem sabes como isso importa para mim.
-O quê?
-“És a minha mulher”. Tens razão.
-No quê?
-Quando dizes que a idade não importa. É verdade. – Demos um beijo. Era naquele momento que eu sabia que ia ficar com David para sempre. Sabia também que, se ele me pedisse em casamento, eu ia aceitar. Sem pensar duas vezes.
-Tenho de ir para o treino…
-É às seis horas?
-Sim…
-Ainda me consegues ver no noticiário certo?
-Sim! Claro! Não ia perder aquilo por dada! Os rapazes estão ansiosos por te ver também.
-Contaste-lhes?
-Sim, claro… O Coentrão dizia que eu parecia um “namorado babado”. – Percebi logo porquê, David desde que a filha de Fábio nasceu diz-lhe que ele é um pai babado.
-Eu não acredito! Agora ainda estou mais nervosa!
-Vai correr tudo bem. E se não fizer grande estreia lembra do Roberto ou de mim.
-Sim, mas é diferente. Se não gostarem de mim despedem-me!
-Não despedem não. Eu ainda tenho as minhas cunhas lá…
-Não suporto essa tua conversa. Mas obrigada.
-Porquê?
-Porquê do obrigada ou porque é que não suporto a tua conversa?
-O Obrigada.
-Porque se não fosse as tuas cunhas não tinha emprego.
-Pois é!! Não reclames.
-Nunca reclamei.
-Sim, está bem! Tenho mesmo que ir…
-Eu também vou – David deu-me um beijo e foi-se embora. O carro dele estava do outro lado da biblioteca. O meu ainda estava longe da biblioteca. Quando cheguei ao carro reparei que já eram seis horas e tinha que me despachar. Queria arranjar um roupa bem bonita pois ia apresentar um programa para a televisão do meu clube.

publicado por acordosteusolhos às 22:16

Chegamos ao Colombo e o David agarrou na minha mão.
-Anda cá. – Fomos em direcção de uma loja de bebés. – Depois vínhamos os dois comprar aqui as coisas. Cinco vezes!
-Não! Já chega desta conversa! Vamos ver o que o futuro nos reserva.
-Eu já sei, cinco bebés.
-Ai, viras-te a bruxo foi?
-Não mas sei.
-Vamos à Worten.
-Está bem…
Entramos na worten e David já olhava para os blackberry’s outra vez.
-Não!
-Mas é bonito.
-David não!
-Ok. Não digo mais nada. Escolhe tu.
-Quero aquele, o X3.
-De certeza?
-Sim, tem teclas. É perfeito.
-Preferia que comprasses o Blackberry. – Suspirei, já estava farta da conversa do David. Olhei para o lado e vi um telemóvel lindo.
-David olha aquele! É lindo!!
-O que é isso? Coisa tão feia!
-É um Sony Ericsson. O Jalou! É LINDO!! Ó, é TMN.
-De certeza que há livre.
-Mas é o dobro do preço. Levo o X3.
-Qual, o azul ou o vermelho?
-Pergunta tão obvia David.
-Ok… Um vermelho a sair. – Soltamos os dois uma gargalhada. – Não queres ir comprar um jornal?
-Não! David já chega…
-Ok, era só porque o N97 também é bonito e tem teclas!
-Não gosto do preço.
-Ah! Do preço! Mas gosta do telemóvel!
-Não, gosto mais do X3 vermelho.
-Que posso eu fazer… Vamos lá compra-lo…
-E vamos compra-lo porque tu pediste-me muito se não primeiro juntava dinheiro.
-Ai que chata! Eu compro-te o que eu quiser!
-Eu posso é recusar.
-Eu comprei-te o TT e não recusas-te.
-Mas o TT foi um caso à parte.
-PorquÊ?
-Porque foi!
-Se aceitas-te o TT, aceitas tudo.
-Não!
-Aceitas sim!
-Não aceito não!
-Se eu fizer um beicinho não aceitas?
-Primeiro eu só aceitei o TT porque tu andas-te uma semana inteira a chatear-me. Segundo, eu posso recusar o que eu quiser!
-Está bem – Chegou a nossa vez de ser atendidos.
-Boa tarde! Queria comprar um Nokia X3.
-Boa tarde! –Respondia David – Esqueça o X3 e traga antes o N97.
-Não! Eu quero o X3 eu vou ter o X3.
-Tu queres o X3 por causa do preço. O N97 se faz favor.
-Não! O X3!
-N97!
-X3!
-N97!
-X3!
-Desculpem interromper a vossa discussão mas há pessoas à espera.
-Desculpe, é um X3.
-E traga um N97 também. – O empregado foi buscar os telemóveis.
-Porque raio pedis-te o N97?
-Se não quiseres que eu compre o N97 para ti eu compro os dois!
-Estás a brincar?
-Não.
-Isso é chantagem!
-Não é não.
-Se não comprares apenas e só o X3 eu saiu de casa.
-Não tens coragem para o fazer.
-Ai não?
-Não.
-Pois não… Mas, vou falar com a tua amiga.
-Ok, ganhas-te. Teimosa! Chata! Cabeça dura!
-Obrigada.
-Afinal é só o X3.
-És um amor.
-Chantagista.
-Só elogios hoje! Que bom!
David deixou de me responder. Entregou o cartão e pagou. Sempre em silêncio. Sabia que estava amuado. Não me importei, já sabia como ele era. Agarrei no saco com uma mão e agradeci ao empregado e ele fez o mesmo. Dei a mão a ele e puxei-o para fora do Colombo a caminho do estádio.
-Tem que ser já?
-Sim.
-E se eu telefonar?
-Está bem…
-Dona Catarina! – Ai agora é que ia ser bonito.
-Doutor Rogério! Como está?
-Dei pela sua falta na aula.
-Deu? A sério?
-Sim, faltou alguém a dizer que o trabalho podia ser um pouco mais complicado.
-Impressionante! – David tentava não rir mas dava para ver pela cara que fazia.
-No entanto há um projecto só para si.
-Ai há?
-Sim, e vai-se divertir imenso.
-Diga então.
-Os seus colegas só fizeram a experiencia e terão que fazer um relatório breve. Você tem que ir a uma empresa há sua escolha e fazer um relatório dois trabalhos práticos à sua escolha.
-Empresa? Relatório? Dois?
-Vinte mil palavras de mínimo.
-Vinte mil?
-Senhora Catarina, foi um prazer estar consigo. O prazo é até dia quinze de Fevereiro.
-Óptimo! O prazer foi todo meu! Adeus Senhor Rogério. – O “doutor” Rogério foi-se embora, ainda não queria acreditar e David ria-se que nem um perdido. – David não tem graça.
-Tem sim. Se visses a tua cara.
-Não tem não. E agora?
-Podes ir ao hospital dos Lusíadas. O Benfica tem um patrocínio com ele e de certeza que eles fazem experiências lá.
-O problema não está no sitio mas sim no numero de palavras que o homem quer! Vinte e uma?! Mas eu virei a escritora? E no mínimo! Deve querer saber o que levei vestido para a experiencia, a cor da minha blusa, das minhas calças, das minhas meias, do meu soutien, das minhas cuecas! – Aproxima-se um miúdo pequeno de sete, oito anos.
-Olá David, podes me dar um autógrafo?
-Claro. – David dava o autógrafo e falava com o pequeno rapaz e reparei no jeito que ele tinha a lidar com miúdos. O problema dos cinco filhos não estava na dor, nem na estética, nem no David. Mas sim em mim. Adora miúdos mas os filhos eram uma grande responsabilidade e eu não me sentia pronta para isso… Só tinha vinte e um anos e estava quase a fazer vinte e dois. O rapaz despediu-se e despedi-me dele também. Agarrei na mão dele outra vez.
-Não achas que somos demasiado novos?
-Novos? Porque dizes isso?
-Sei lá, vou fazer vinte e dois e tu vais fazer vinte e quatro… Se calhar, somos demasiado novos.
-Então e quando pensava começar a fazer família?
-Sei lá, eu em miúda sonhava casar aos trinta e fazer família aos trinta e cinco. Sonhava em casar com o director do Hospital da Luz e ser médica lá. Sonhava em visitar toda a Europa. Sonhava em ter uma casa em Lisboa e ser independente.
-O problema não está em ter filhos ou não, casar ou não. O problema está em eu ser um jogador de futebol e não um médico conhecido que seja director de um hospital.
-Não David, nada disso. Mas era a minha ideia de casamento perfeito.
-E o nosso não pode ser perfeito?
-O nosso vai ultrapassar o perfeito. O problema está nas idades.
-São só números.
-Não são só números. A cabeça vai mudando com a idade. E eu não sei se estou pronta para casar ou para outras responsabilidades. – Reparei no olhar do David, era triste. – Que se passa?
-E se eu me quiser casar contigo?
-Eu não me importo porque também quero, mas as idades não serão um problema?
-Se tivéssemos dezasseis anos, talvez. Mas já somos maiores e vacinados.
-Sim, mas somos responsáveis o suficiente para o fazer?
-Achas que não?
-Não, mas o casamento é algo… Para sempre, entendes? Eu quando me casar contigo quero que seja para sempre.
-E qual é a diferença entre casar agora ou casar depois?
-Estás a pensar em pedir-me em casamento agora?
-Eu não! Mas daqui a uns anos ou dois. Qual é o problema de ser daqui a dois anos ou daqui a dez?
-Temos mais cabeça.
-Mas o casamento são só papéis Catarina.
-Eu sei, mas é diferente.
-Queres casar comigo?
-Sim.
-Então o que te está atormentar.
-O que as pessoas me dizem.
-E o que te dizem?
-Que somos demasiado jovens.
-Então vamos provar o contrário! Que embora jovens, o nosso amor supera tudo e já provamos isso.
-Concordo. Agora, vamos ao fun center? Já não vou lá há tanto tempo e nos próximos dias vou estar só com a cabeça enterrada em livros e no computador.
-Claro! Trouxeste o cartão?
-Pus na tua carteira no outro dia.
-Ok, vamos então. Acho que ainda tenho cinco euros lá.
-Vamos então. – Fomos para o fun center. Jogamos bowling e a umas máquinas de jogos que estavam lá. Era impossível ganhar ao David, quer fosse no bowling ou nas máquinas. Eu mal conseguia lançar a bola com força. Ele bem que me tentava ensinar mas era missão impossível. Eu tinha uma grande deficiência, não conseguia fazer vários movimentos ao mesmo tempo. E correr com uma bola na mão de uma determinada maneira e depois lança-la era um perigo. Não tinha jeito, era trapalhona. Depois fomos para as máquinas mas também era para esquecer. Ganhava um jogo em dez e como só jogamos dez vezes, só ganhei um. O habitual. Como já era tarde comemos no Colombo.
-O que queres comer?
-Por mim tanto me faz.
-Sabes, apetecia-me de ir comer ao kilo.
-Foi lá onde tudo começou.
-Pois foi. Mentira! Na verdade foi ali na esquina quando bates-te no Ruben.
-Mas a verdade é que quando começamos a falar foi ali naquela mesa a comer comida dali.
-Está bem, então vamos. – Fomos buscar a comida lá e comemos exactamente na mesma mesa.
-Fazemos este mês seis meses para o mês que vem.
-Eu sei. Já passou algum tempo.
-Espero que passe muito mais. – Dizia o David. – Achas que aguentamos trinta anos?
-Trinta? Não. Mas cinquenta, já faz parte dos meus planos.
-Ainda bem.

publicado por acordosteusolhos às 14:05

30
Ago 10

Esqueci-me de um pormenor. Onde ia encontrar a Luísa? Dela nada sabia e precisava mesmo de falar com ela. Não para arranjar confusões mas para lhe dar um murro naquela cara de… “Calma Catarina, calma” pensa para mim. Tinha que fazer um plano, mas bem feito. Fui ter com o David para ele não estranhar mas já tinha tudo planeado. Ela não sabia com quem se tinha metido. Entrei dentro do carro e fui para casa. Ainda estavam há minha espera.
-Desculpem o atraso.
-Não faz mal amor. O Ruben é que estava já a desesperar.
-Desculpa lá, vamos onde?
-Não sei, tens alguma ideia Catarina?
-Podíamos ir ao “Hard Rock Café” que acham?
-Por mim meu anjo, vamos onde você quiser.
-Está-se bem. Vamos aí então…
Entrei dentro do carro do David e o Ruben foi no seu.
-Já ligas-te para o banco?
-Sim. Eles dizem que mandam outro cartão.
-Ok.
-Estás muito calada.
-Não estou não.
-Estás sim…
-Ó, está bem.
-Vens na Lux.
-Hã?
-Na revista.
-Hã?
-Na capa.
-Hã?!
-Sim, vem a dizer que te abandonei e que sais-te de casa e que estás a passar um depressão.
-Yeah!! Lindo!! Agora a minha mãe vai saber! Dá-me o teu telemóvel.
-Está no meu bolso, podes tirar.
-O que tu queres sei eu. – Tirei o telemóvel do bolso das calças do David. Procurei o nome da minha mãe, nada. – Não tens o numero da minha mãe?
-Tenho sim.
-Então qual é?
-Sogrinha.
-Isso fica tão mal David. – Disse ao mesmo tempo que me ria e tentava procurar o nome dela – Aqui está! – Chamei para ela. – Sim mãe?
“Filha! Como estás? Já te telefonei tantas vezes e não atendes! O que fazes com o numero do David?”
-Mãe é só para dizer que tudo o que vem nas revistas é mentira e perdi o telemóvel.
“Bem, isso ao menos é teu, perder o telemóvel. Vê lá se não perdes também o teu namorado”
-Mais depressa perco a minha cabeça mãe.
“Está bem filha. Olha, vou ter que desligar. O António está na porta”
-Ainda bem mãe. Aproveita o dia com ele. Beijinhos!
“Beijinhos filha, obrigada.” Lembrei-me de uma coisa quando ela disse o nome de António. António também era um professor da universidade, António Serra.
-Bolas!!
-Que foi?
-Hoje era o trabalho prático.
-Do quê?
-Da universidade.
-Ah…
-Ah…? É isso que me tens para dizer? Ah…?
-Sim… Ah…
-Não gozes.
-És sempre a mesma coisa. E de quem era a aula.
-Do Rogério…
-Estás lixada.
-Obrigadinha meu amorzinho. Ainda por cima perdi todos os meus contactos.
-Só precisas de um.
-De quem? – A resposta era obvia mas tinha que perguntar.
-Do meu.
-Está bem… - Senti o telemóvel do David a tremer. Era uma mensagem. – Posso ver?
-Sim claro.
“Então, ela acabou contigo não foi? Eu avisei, não quiseste ouvir. Vais acabar comigo por isso que tal despachar as coisas? Vem ter comigo daqui a duas horas à praia. Beijo”
-MAS QUE LATA! QUEM É QUE ESTA GAJA PENSA QUE É? É DESTA!! É DESTA!! JÁ NEM DEUS ME SEGURA!!
-Que se passa?
-É a tua amiga! Otária! Eu vou-me a ela David! Eu vou me a ela!
-Não vais nada e da cá o telemóvel. Para ela só tenho uma coisa. Apagar mensagem.
-Ai que raiva! Ela não tem vergonha na cara? Que pu…
-Catarina! Calma! – Interrompeu David – Ignora.
-Ok, está bem…
-Tu não vais estar quieta pois não?
-Que achas?
-Catarina… Não podes fazer isso. – David tinha razão. Ele depois é que ia ficar com o nome manchado e não o podia fazer.
-Tens razão. Ok, mas se ela te mandar outra mensagem…
-Já sei… Não vai.

Hard Rock Café, 13:45

-Então, já pensaram no que vão comer? – Perguntava Ruben
-Já tinha saudades de vir aqui…
-Eu quero um hambúrguer.
-Eu também quero um. – respondia Ruben
-Eu quero crepes.
-Crepes? Vais comer aquilo outra vez Catarina?
-Sim. É super bom!
-Se ela gosta é melhor nem dizer nada Mano.
-Está bem…

14:50

-
Bem, o almoço foi muito bom mas eu tenho que ir. Tenho mais que fazer… - Dizia Ruben
-É, é, eu entendo.
-Eu não…
-Nem vais saber. Se lhe contas David, estás feito comigo.
-Se não me contas David, estás feito comigo!
-Eu não tenho nada haver com isso. Fala com ele!
-Quando tiver o telemóvel falo contigo…
-Está bem. Adeus – Ao mesmo tempo cumprimentava-me e dava um abraço ao David.
-Que vamos fazer nós agora? – Perguntava a David.
-Podia-mos ir comprar ao teu telemóvel. E que tal?
-Por mim…
-Vá que eu vou jogar fora neste fim-de-semana e quero falar contigo.
-Azar o meu. E os meus anos?
-Eu vou no sábado e volto no mesmo dia.
-Não gosto nada quando vocês vêm à noite.
-Porquê?
-Porque não! Sei lá… De dia era muito melhor.
-Nós vamos pela auto-estrada. Não há problema.
-Óh, está bem…
-Vá, entra dentro do carro. Vamos comprar o teu novo bichinho.
-Bichinho? – Entramos no carro e o David começa a conduzir.
-Sim…
-Está bem, vai-te substituir?
-Gracinha. Queres ir onde?
-Não sei… Tenho que ir ao Estádio tratar de uns assuntos…
-Do quê?
-Quero-me informar de umas coisas.
-Do quê?
-Não sejas chatinho.
-Não sou chatinho, sou teu namorado e quero saber o quê.
-Então, quero saber se não têm um trabalho para mim.
-A fazer o quê?
-Sei lá. Qualquer coisa…
-Ok, vamos lá e falas com um superior de lá… Mas querias mesmo o quê?
-Não sei, qualquer coisa… Mas preciso de arranjar um emprego.
-Mas não vais desistir do curso pois não?
-Não. Mas preciso de um emprego. Odeio que sejas tu a pagar tudo. Vamos comprar alguma coisa, és tu que pagas. Vamos passar uns dias fora, és tu que pagas. Vamos sair, és tu que pagas.
-Impressionante! Quantas mulheres não gostavam de estar no seu lugar. De estar sentadas na cadeira a ver televisão, de irem ao SPA quando quisessem, de irem ao ginásio quando lhes apetece e tudo às custas do marido e você saiu-me assim. Chiça…
-Não sou assim e sabes disso. Enjoa-me só de pensar que há pessoas assim. Eu amava-te nem que fosses um pedreiro.
-Mas achas que nos íamos conhecer se eu fosse um pedreiro?
-Porque não? Se Deus nos quer juntos tanto faz que sejas pedreiro ou jogador. Ele ia-nos juntar.
-Sim, talvez…
-É o destino meu amor, já foi traçado.
-Está bem. Vamos ao Colombo então?
-Sabes que adoro ir lá.
-Pois sei, se fosse por ti vivíamos lá.
-Sabes, não era má ideia.
-Ui, que ideia… Mas sabes, quando nos casarmos temos que mudar de casa.
-Porquê?
-Porque a nossa casa é um T1 e eu quero começar a construir família.
-Ah, sim. E também para quando a tua mãe vier cá ter sitio para ficar.
-Sim.
-Mas, nem sabes se estás cá para o ano.
-Sei sim. Se Deus quiser sim.
-Ó e se Deus não quiser?
-Logo se vê está bem?
-Mas uma casa não é brincadeira David, implica muito dinheiro…
-Eu sei. Mas estou disposto a correr o risco.
-Então e agora, falando do assunto família, quantos filhos queres?
-5
-Hã?!
-Cinco. Você sabe, a mão cheia.
-Quantas mulheres vais ter?
-Andas com umas piadas…
-Eu sei, mas cinco? Eu estava a pensar numa família de quatro pessoas. Dois filhos sabes? Uma rapariga e um rapaz. Ele chamava-se Gabriel e ela Maria.
-Já pensas-te nisso tudo?
-Sim! E podes mudar o nome dele mas ela tem que se chamar Maria.
-Então e se sair dois rapazes.
-Só descanso quando sair uma rapariga.
-Ah, então está bem. Quatro rapazes e uma rapariga, sendo ela a última a nascer.
-Tu tens a noção o que é ter cinco filhos? É que, o parto dói!
-Eu sei… Mas eu gostava muito de ter cinco filhos.
-Aquilo deve doer mesmo! Quer dizer! É um bebé a sair pela… Por amor de Deus! Cinco vezes?!
-E ela podia-se chamar Maria e eles Anderson, Gabriel, Joel…
-E depois a casa tem que ser enorme e cinco crianças em casa é um grande desafio! É a escola, a comida, o futebol para os rapazes, o ballet para as raparigas. E depois é tudo uma grande desarrumação e sabes como eu odeio desarrumação. E depois a preocupação se eles estão bem ou não.
-Outro podia-se chamar Ruben que achas?
-Já para não esquecer que eu não iria parar de trabalhar e que cinco crianças implicava cinco carrinhos, cinco cadeiras e cinco lugares no carro, ou seja, uma daquelas carrinhas horríveis!
-E o Ruben e o Gustavo tinham que ser padrinhos.
-Tu estás a prestar atenção ao que estou a dizer?!
-Sim. Mas pensa assim, são cinco filhos nossos. Nossos. Cinco meninos…
-Incorrecto, quatro meninos e uma menina. Quero uma menina!
-Pronto, quatro meninos e uma menina maravilhosos, lindos.
-Mas, aí… Depois vê-mos isso.
-Quero cinco filhos.
-Já entendi.
-Cinco…
-Pois claro! Cinco! Não és tu que vais estar a tê-los no parto! Já agora onze para fazer uma equipa de futebol.
-Não, cinco já dá para fazer uma de futsal.
-Vai-te catar. Cinco é muito…
-Por favor…
-Não é um favor… Se Deus quiser serão cinco. Depois vê-mos o que o futuro nos reserva.
-Cinco no mínimo…
-David! Já chega!!
-Está bem…

publicado por acordosteusolhos às 23:14

Acordei com um cheirinho muito bom. O David já não estava na cama e já me sentia muito melhor. A garganta não me doía, já não estava com febre e sentia-me muito bem. Sai da cama e fui para a cozinha. Espreitei e vi ele a fazer torradas. Reparei na perfeição daquele sujeito de caracóis que era meu namorado. Sentia-me completa a seu lado e não queria que nada acabasse. Ele olhou para trás e viu-me, fez um sorriso que mostrou todos os dentes.
-Bom dia meu amor. Tudo bem?
-Óptimo, estás melhor?
-Sim David, estou. – Dei lhe um beijo e agarrei por trás.
-Senta-te no sofá. Já te levo a comida lá.
-Ok.
Comemos com brincadeiras à mistura. Nesse altura fiquei com uma certeza, podíamos casar que não iríamos separarmo-nos tão facilmente.
“Ding-dong”. O som da campainha fez-nos despertar do planeta onde estávamos.
-Eu vou lá, fica aqui David. – Abri a porta e vi o Ruben
-Catarina?! Então mas tu e o… Mas…
-Bom dia Ruben – cumprimentei-o com dois beijinhos – David vem cá, é o Ruben. Vou tomar banho.
-Meu irmão! Entra aí! Já comeu?
-Já, já. Então tu e ela não estavam… Já não entendo nada.
-Eu conto a você, senta aí.

*
-Ah, então já está tudo bem…
-Sim.
-Então pronto. Bem, vou-me embora que vocês devem querer matar as saudades.
-Porque é que não almoças connosco Ruben? – Perguntava enquanto saia da casa de banho para entrar no quarto.
-Boa ideia, fica para almoçar connosco!
-Hum… Não quero andar aqui a servir de vela. É melhor não.
-David, convenci-o.
-Ok, meu, se não ficares ela vai-me torturar a vida.
-Mentira David! Não sejas mentiroso!
-Ok, eu fico.
-Boa! – Dizia David com um sorriso nos lábios. – Vou me vestir e da que nada saímos. – Dizia a Ruben que ligava a TV enquanto David ia para dentro do quarto.
-Catarina. Já estás vestida? Estás rápida!
-Sim, enquanto tu vais tomar banho eu vou ao Tivoli pagar a conta e ao banco cancelar o teu cartão.
-Está bem então… Dá me um beijo.
-Não dou.
-Porquê?
-Porque é vigança.
-Do quê?
-De estares “cansado” ontem.
-E estava.
-E eu também. No entanto…
-Deixa-te de coisas e dá-me lá um beijinho. Só um…
-Não – passei por ele a correr e sai do quarto.
-Parva.
-Idiota! – Voltei atrás e dei-lhe um beijo na bochecha enquanto ele estava a guardar os chinelos. – Assim está melhor?
-Um bocadinho. Levas o outro cartão para pagar?
-Não.
-Então vais pagar como?
-Com o meu dinheiro.
-Casmurra! Leva este cartão. Temos que fazer uma conta conjunta.
-Está bem, depois fala-se disso. Adeus Ruben.
-Adeus Catarina.
Sai de casa e fechei a porta com força. Tinha que ir ao Hotel pagar o quarto e trazer as coisas, ao banco cancelar o cartão do David (nem sabia como pois ele era o único que podia fazer) e ainda ajustar contas com a Lisa. Não tinha tempo para tudo então decidi ligar com o David mas com que telemóvel? Tinham-mo roubado e já estava longe de casa. Tive que ir a uma cabine telefónica.
-Sim, David. Olha, não vou ao banco. Telefona tu para lá, ok babe? Beijinhos. Também te amo.
Entrei dentro do carro outra vez e fui para o Hotel.
-Menina? Não a vi sair.
-Bom dia! Isso é porque não dormi cá.
-Não? Já está com melhor cara.
-Você tinha razão. Já pensou ir para psicólogo?
-Não está nos meus planos menina.
-Devia pensar no assunto. Bem, vou pagar o quarto que já estou atrasada.
-Muito bem menina.
Antes de ir pagar tive que ir ao quarto buscar as coisas. Era só uma mochila que estava lá e duas camisolas. Despachei-me e fui a correr para a recepção.
-Bom dia! Queria pagar o quarto.
-Já se vai embora?
-Nem fiquei cá.
-Espere um bocadinho então. São duzentos euros menina. Vai pagar em dinheiro, cartão, cheque?
-Cartão. – Ao mesmo tempo que estendia a mão. Vi o anel de namoro outra vez, desta vez já não me senti triste, nem com dor no peito mas uma alegria imensa.
-Aqui está menina, basta pôr o código. – Pus o código apressadamente, queria ir me embora o mais rápido possível. – Já está, espere um pouco enquanto vou buscar uns papeis. – O empregado voltou num instante e trouxe-me uma carrada de papéis que nem sabia para que serviam. Metade deles eram daqueles para deitar para o lixo. – Obrigada e volte sempre.
-Espero que não volte por esta razão. – sussurrei – Obrigada!
Sai do hotel e despedi-me do porteiro, ele que tinha sido uma grande ajuda na minha reconciliação com o David. Agora era tempo que falar com Luísa.

publicado por acordosteusolhos às 20:58

Sai do Hotel e entrei dentro do carro. Estava encharcada e o David tinha um amor aquele carro mas mesmo assim não se importou que eu me sentasse no banco toda molhada.
-David devias ligar para o banco.
-Ligo quando chegarmos a casa.
Atchim! Atchim!
Bolas! Espirrei! Agora já sabia que não ia voltar para o hotel, nem que ele me tivesse que prender em casa.
-Eu disse! Já está constipada!! 
-David…
-Nem mais uma palavra!
-Está bem – cruzei os braços e fiz birrinha.
-Amanhã não tenho treino, vamos comprar um telemóvel para você.
-Dá-me de prenda. – disse sem pensar, só depois é que prestei atenção ao que disse. Ficou tão mal.
-Não posso. Já tenho a tua prenda. Pode ser um fracasso mas já a tenho.
-O que é?
-Surpresa.
-Idiota.
-Hã?
-Nada.
-Tira a blusa.
-O quê?
-Estás toda molhada, vais ficar pior.
-Não me importo. Atchim. Atchim. Ai a minha cabeça – saiu-me como um desabafo. Estava a dar mais razão ao David a cada minutos que passava.
-Já estamos a chegar.
Chegamos ao fim de dois minutos, nesses dois minutos ninguém falava mas o David olhava sempre para mim de dez em dez segundos.
-Espera um bocadinho aí. – Saiu do carro e dirigiu-se para o meu lado. Abriu a porta.
-Vem.
-Hã?
-Vá salta para os meus braços, eu levo-te ao colo.
-Não.
-Não vais a bem, vai a mal. – Agarrou-me num instante e pôs-me a seu colo.
-Que estás a fazer? Pára! Larga-me!
-Não! Cala-te um pouco.
-Eu sou pesada.
-Já disse para estares calada! Estou chateado contigo. Farto das tuas teimosias. Se tivesses vindo comigo nada disto se tinha passado.
Não disse mais nada o resto do caminho, o que o David me disse magoou-me. Tentei não chorar e fazer-me de forte mas quando estávamos perto da porta do apartamento agarrei-me a ele e chorei.
-Desculpa, não queria fazer nada daquilo. Eu sou tão parva. Tu tinhas razão, sempre tiveste. Nem devia ter saído de casa.
David largou-me e pôs-me no chão mas nem disse uma palavra. Nunca ele tinha ficado assim, eu tinha feito aquilo e estava-me a sentir culpada, muito culpada. Entramos em casa em silêncio, ele tirou as chaves e pôr num móvel que tínhamos à entrada. Agarrou a minha mão e levou-me para o quarto.
-Porque é que és assim? Teimosa! Você sabe que a única pessoa que pode ser assim sou eu. – Dizia David, ao mesmo tempo que procurava um pijama quente para mim. – Despe-te.
Fiz o que ele dizia, despi-me e fui buscar uma roupa interior para vestir.
-Você é tão teimosa. Mas pronto, que irei fazer não é? – fazia um sorriso amarelo e de seguida abraçou-me. Senti as suas mãos grandes nas minhas costas que estavam congeladas. Senti-a o calor dele a transferir-se para mim mas só com o abraço dele senti-me quente.
-Tenho saudades David.
-Do quê?
-De estar a teu lado, dos teus beijos, das tuas carícias, de tudo. Amo-te e quero passar isto. Quero estar a teu lado.
-Desculpa, eu amo-te. Fica comigo, para sempre.
-Fico e garanto-te que não será nenhum sacrifício. – David largou-me e agarrou na camisola do pijama.
-Vá, estica os braços. – Levantei os braços e o David cuidadosamente vestiu-me a camisola. – Queres que te vista as calças também?
-Não acho que seja necessário.
-Estás doente. Hoje não vai haver nada. Vou buscar um comprimido para ficares melhor.
-Obrigadinha.
-Estive a trabalhar até tarde, não se esqueça disso! E hoje foi um dia muito longo. Vá, vai para a cama. Já vou aquecer.
-“Estive a trabalhar até tarde”. Engraçadinho.
-Ao menos trabalho.
-E eu não?
-Ainda não.
-Ainda! Disseste bem David Marinho! Ainda!! – Disse a David que já estava a caminho da cozinha. Vesti as calças do pijama e abri a cama. – David despacha-te. – Gritava a David.
-Já vai chatinha. Toma, engole o comprimido.
-É grande.
-Deixa de ser mariquinhas e engole lá o comprimido.
-Está bem. – Engoli o comprimido com a ajuda da água mas com alguma dificuldade. A minha garganta estava inflamada já. Entrei de seguida na cama acompanhada por ele que já estava com uma blusa vestida. Agarrei-me a ele, já sentia saudades do seu perfume, dos seus caracóis, até dos seus grandes pés que roçavam nos meus quando a minha cabeça estava no seu peito (só desse maneira conseguia tocar nos pés dele por causa da sua altura). Enrosquei-me a ele como podia. A minha cabeça no seu peito e ele pôs-me o seu braço por cima de mim.
-Obrigada Catarina.
-Porquê?
-Por me perdoares. Pela pessoa que és. És me tudo.
-Igualmente.
-Amo-te – ao mesmo tempo que beijava a minha testa. O comprimido já estava a fazer efeito e deixei-me dormir logo a seguir. O porteiro tinha razão, nunca me lembrei da Luísa naquela noite.

publicado por acordosteusolhos às 16:45

 

Estou a ler este livro de Rui VIlhena. Para quem não conhece ele é guionista e assinou novelas como "Ninguém como tu", "Olhos nos Olhos" e "Tempo de viver". Este senhor também foi o responsável pela série 37 e pela adaptação do romance "Equador" do Miguel Sousa Tavares (Portista) para a TVI.

A história deste livro é muito simples. Paulo é casado com Sílvia, que é amante de Carlos, que é marido de Marta, que tem um caso com Ricardo, que vive com Henrique, que está a sair com Paulo. Confuso?
O livro é muito divertido e aconselho a ler embora o senhor Rui Vilhena tenha transformado o livro num "guião". Claro, esta é a minha opinião. Espero pela vossa opinião e que me digam qual é o livro que estão a ler.

Obrigada.

publicado por acordosteusolhos às 15:31

Olá! Como estou um bocadinho atrasada queria pedir desculpas porque não poderei postar tão rapidamente. Queria também perguntar-vos qual é a vossa opinião sobre a fan-fic e qual foi o capitulo que gostaram mais ;)
Obrigada, Cat *.

Peço mais uma vez desculpas por não poder postar mais depressa :/

publicado por acordosteusolhos às 03:08

-Você viu? Ela não estava lá. Ela não costuma faltar aos jogos, ela adora isto. Até doente com trinta e nove graus de febre e a espirrar por todo o lado ela vem ver os jogos e agora não vem…
-Calma David… Ela falou comigo hoje de manhã e disse para estar contigo, isso quer dizer que ela estava preocupada contigo…
-Sim meu irmão mas não está cá. Precisava de a ver.
-Vais ver que corre tudo bem – Dizia o Ruben a tentar incentivar o David.
-É David, a Catarina está atrás do banco! Mesmo chateada ela vem te ver não é? O que aconteceu ao seu lábio? – Dizia o Kardec mesmo não sabendo que era desse assunto que estavam a falar.
-Ela está lá fora?
-Sim, mesmo atrás do banco, já falei com ela e tudo. Parecia-me um bocado triste e já estava toda encharcada… Mas não me respondeu, como fez isso no seu lábio.
-Eu bati-lhe Kardec, ele estava a merecer – Mentia o Ruben, ele sabia muito bem quem lhe tinha batido.
-É tonta a rapariga. Com lugar no camarote vai para ali. Meu, a tua namorada não bate bem… - continuava Kardec…
-É, é isso ou é perfeita demais.
-Vão entrar do balneário ou querem ficar aqui fora a falar? – Interrogava o treinador ao Ruben e ao David.
-É para já mister. – Respondia o Ruben.

*


Estava sentada e a chuva não dava tréguas. Não me importava, mesmo com os gritos dos No Name, do speaker a falar e das pessoas a cantarem continuava a pensar nas fotos e no que seria melhor. Estava preocupada, não queria que o jogo lhe corresse mal. Vejo eles a saírem e o David a rezar como fazia sempre antes de entrar em campo. Puseram-se de frente para mim para se apresentarem aos adeptos, a cabeça do David mexia-se de um lado para o outro até que olhou para mim e sorriu. Não pude ignorar e sorri também. Ele ficou com uma cara séria e eu percebi logo o que ele queria. “Sai daí Catarina, vai para os camarotes” era o que a cara dele dizia, sorri novamente e disse que não ao mesmo tempo que acena com a cabeça, logo de seguida percebi ele a chamar-me teimosa. Mandei-lhe um beijo para ver se parava um bocado e tomava atenção ao jogo.
O jogo tinha acabado, o Benfica tinha ganho um a zero e o David fez outro bom jogo, não dos melhores, mas bom. E a sair do meu lugar, escorria água por todo o lado e ouvi a chamarem o meu nome e conheci logo a voz.
-Espera, chega aqui à sala. – Dizia o David perto do banco.
-Ok, vou já. – Sai do meu lugar e tive que pedir ao segurança ao segurança para me levar à sala onde se encontravam os familiares. Felizmente o senhor conheceu-me mas fez me um reparo, disse que estava diferente, mais pálida. Também não era para admirar, tinha estado o dia a dormir e a chorar e agora à chuva. Quando cheguei à sala agradeci ao segurança e cumprimentei algumas pessoas que lá estavam e reparei no David com os caracóis todos molhados e que escorriam água.
-David vai-te lavar. Ainda ficas constipado…
-Sim, mas toma. Dá me esse casaco e fica com este. – Dizia e dava-me o casaco dele – E tens que esperar por mim. Levo-te ao hotel.
-Não preciso, vou de metro.
-Catarina é tarde e não te quero a andar aí sozinha.
-Ó David…
-Vá, não digas que não. Se disseres que não vou ter que te raptar. – Sorri um pouco, ele fazia-me tão bem.
-David, eu vou sozinha. Não te preocupes. Eu vou mais o Serginho.
-Esse? Não confio nele.
-Ok, então vou com o JP.
-Estás a brincar certo? Vai de mal a pior.
-Ok, então com o Igor.
-Não era esse que andava atrás de ti?
-Ninguém anda atrás de mim.
-Por favor, vem comigo.
-David, vai tudo correr bem. Eu vou com eles. É sem problema.
-Estou com um mau pressentimento.
-David esquece. Eu estou bem. Obrigada pelo casaco. Agora vai te vestir antes que te constipes. – Respondi-lhe mal para ver se ele me deixava ir, embora fizesse bem estar com ele precisava de algum tempo para estar sozinha.
-Está bem. Faz o que quiseres. Quando chegares ao hotel liga-me.
-Ok, está bem… - Dei-lhe um beijo na bochecha e fui me embora. Não havia nem Serginhos nem JP’s nem Igor’s à minha espera mas já tinha feito aquele caminho mais de trinta vezes, não iria ser desta que iria acontecer alguma coisa. Sai do estádio e fui para o Colombo para apanhar o autocarro, já estava tudo vazio e só algumas pessoas estavam lá. O caminho era directo por isso não tinha com que me preocupar, nem percebi qual era a preocupação do David. Sai na estação do oriente e pus-me a caminho do Hotel. Já era quase meia noite, tinha-me atrasado um bom bocado. Do metro até o hotel ainda eram alguns minutos de caminho mas fazia-se bem.
-Queridinha? Queridinha? Vem cá… - Olhei para trás e vi cinco homens, estava escuro e não deu para ver quem era. Comecei a andar mais depressa.
-Onde vais fofinha? Não fujas… -Não respondi e comecei a correr. Senti eles também a correrem e os passos mais perto.
-Anda cá – um agarrou o meu casaco – Onde ias bonequinha?
-Responde docinho…
-Olhem vocês não sabem quem é?
-Sei sim, é uma gaja daqui.
-Não pá, esta é namorada daquele de caracóis lá do Benfica
-Pois é, vá docinho. Dá-me tudo o que tens. – Já chorava e à minha volta só tinha eles. Entreguei-lhes o meu telemóvel e o cartão do David.
-Mais docinho…
-Não tenho mais nada, vim agora do jogo. Não tenho nada.
-Então vais ter que nos dar mais alguma coisa. O que fazemos com ela?
-É bonitinha, podíamos brincar.
-Saíam daqui imediatamente! Vão se embora bandidos – vi eles todos a fugirem e cai no chão a chorar. – Menina está bem?
-Estou, obrigada. – Quando olhei vi que era o porteiro do Hotel. – O que faz aqui a esta hora da noite?
-Isso devia perguntar à menina. Sai agora de serviço e vi este grupo aqui, achei estranho e quando olhei reparei que a menina estava lá no meio. Está bem? Fizeram-lhe alguma coisa? O que faz aqui sozinha.
-Vim agora do jogo, eu estou bem graças a você. Roubaram-me o cartão de crédito e o telemóvel mas estou bem…
-Venha, levo a menina ao hotel. Devia apresentar queixa.
-Obrigada, para quê? Eles vão continuar soltos. Nem vale a pena. – O hotel era logo no virar da esquina, tinha que telefonar ao David a pedir para cancelar o cartão. Sabia que ele vinha ter comigo e iria ouvir das boas mas não me importava. Não fiz nada de mal e estava bem.

**

“Sim, quem é?”
-Sim, David…
“Aconteceu alguma coisa?”
-Não, só queria pedir para cancelares o cartão.
“Porquê?”
-Perdi-o.
“Perdeu? E de quem é este número?”
-Sim perdi, é do hotel.
“Então e o seu telemóvel?”
-Perdi também.
“Catarina, roubaram você?” Impressionante como esta criatura me conhecia bem.
-Sim, mas…
“Eu vou já para aí”
-Não! Eu estou bem!
“Eu sabia que isto ia acontecer, estava com um pressentimento. Eu vou já para aí”
-Deixa de ser assim, eu já disse que estou bem.
“Quero confirmar” Era escusado. Ele vinha e não havia nada a fazer.
-Está bem, vem. Mas é uma perda de tempo. Estou óptima!
“Está bem, estou aí em cinco minutos”
-Não venhas muito depressa. Até já. – Desliguei o telefone. Já sabia que ia ouvir sermão.
-Menina, desculpe estar-me a intrometer mas você está chateada com ele?
-Sim, ele beijou outra mas não quis, ela é que o beijou.
-Então porque está chateada?
-Não estou, mas preciso de tempo para esquecer isso tudo.
-Sabe menina, às vezes o melhor é estar com a pessoa que nós gostamos. Com as pessoas que amamos nós esquecemos qualquer coisa mesmo que tenha a ver com elas.
-Eu sinceramente não sei o que me faz pior, estar longe dele ou estar perto e pensar no assunto.
-Menina, fale com ele. Acho que você tem um amor muito bonito e não pode estragar esse amor.
-Eu falo…
-Faz bem menina, bem vou ter de ir. Vou para perto da minha família… Boa noite menina.
-Boa noite e obrigada por tudo.
-De nada menina. – O porteiro saiu apressado. Já era tarde e tinha estado todo o dia no hotel. Precisava de estar com a família, lembrei-me no que ele me disse e talvez tivesse razão. Mais valia deixar isto tudo de parte e aproveitar todo o tempo que tinha com ele. Fui-me sentar nos sofás da entrada quando ele aparece. Estava com uma cara aborrecida e já sabia o que vinha dali.
-Catarina está bem?
-Sim, estou óptima.
-O que aconteceu?
-Resumidamente eles eram cinco e roubaram-me. Levaram o teu cartão e o meu telemóvel.
-Estou me a lixar para isso. Tens a certeza que estás bem?
-Sim David.
-Pareces-me pálida.
-Eu estou bem.
-Estás quente – dizia ao mesmo tempo que punha a mão na minha testa.
-David eu estou bem.
-Catarina, não estou descansado. Vem comigo.
-Para onde?
-Lá para casa. Você está quente e se for febre não quero que fique pior.
-David, eu não quero…
-Então eu fico hoje aqui então.
-David, controla-te.
-Então vem comigo – já sabia o que ia acontecer, era sempre assim. Ele conseguia ser mais teimoso do que eu.
-Está bem. Eu vou mas durmo no sofá.
-Não, eu durmo no sofá você na cama. Já está toda encharcada outra vez.
-Eu estou bem David.
-Já disseste isso várias vezes mas não fico descansado. Vá, vem…
-Ok.
Tinha que ir, com o David era inevitável. Foi nesse momento que me percebi que era dependente daquele homem, que por ele ia até ao final do mundo e percebi também que ele podia-me trair mas eu iria sempre desculpa-lo e era escusado dizer que isso não iria acontecer pois o meu amor por ele ultrapassava todos os obstáculos do mundo e a não ia dar esse prazer à Luísa.

publicado por acordosteusolhos às 00:37

29
Ago 10

Sai de casa e decidi não levar o audi, não estava em condições de conduzir. Estava a chover torrencialmente mas não me importava, ao menos não se notava as lágrimas. Já não me lembrava onde era o Tivoli então fui de metro até ao Estação do Oriente. Mal sai da estação vi o hotel, dei uma corrida até à entrada para não me molhar muito mas já estava encharcada. -Desculpe, menina, onde vai? – Perguntava-me o senhor da portaria. -Eu queria ficar hospedada aqui…

-Menina, desculpe a indelicadeza mas tem dinheiro para ficar aqui?

– Era compreensível, estava encharcada e parecia uma abandonada. Esbocei um sorriso para responder.

-Tenho, não se preocupe. Acha que me consegue arranjar uma toalha antes de entrar?

-Claro menina, perdão.

– Ausentou-se e voltou com uma toalha.

– Pode-me dar o seu casaco? Vou pedir à lavandaria para o lavar.

-Claro, obrigada.

– Entrei no hotel, reparei na sua entrada. Era um luxo e todas as pessoas estavam vestidas elegantemente e eu com umas calças de ganga e uma t-shirt e os meus all-stars pretos encharcados. Dirigi-me à recepção.

– Bom dia.

– O senhor que estava lá olhou-me de alto a baixo.

-Bom dia. Que deseja? -Queria um quarto se faz favor.

-Com quantas camas?

-Uma.

-Quer vista para o mar?

-Agradecia e quanto mais alto melhor.

-Sim senhora. Pode ser o quarto 18 do piso décimo segundo piso? Tem uma vista para o mar e para além disso uma varanda grande.

-Sim, está óptimo.

-Aqui está a chave. Tem mala?

-Não… -Pensa ficar quantos dias?

-Ainda não sei, mas não se preocupe com o dinheiro.

-Muito bem senhorita, assine aqui e preciso de um documento seu.

-Fique com este.

– Entreguei o cartão e quando estava a estender a minha mão vi o anel que o David me tinha oferecido. Larguei mais umas lágrimas.

-Senhora, está bem?

-Sim, está tudo bem. Posso subir?

-Sim, sim.

-Obrigada…

-Obrigada nós senhora.

O quarto do hotel era lindo, as paredes estavam a pintadas de um creme que trazia tranquilidade. A cama era de casal e tinha uma colcha as riscas brancas e vermelhas. As janelas eram enormes e tinham vista para todo o rio. Sentei-me na cama e acendi a televisão. Ainda era cedo e apetecia-me dormir mas aquelas fotos não me paravam de atormentar a cabeça. Lembrei-me do que o David me dizia, que a vida pessoal também se intrometia nos jogos. Não queria que os jogos do David corressem mal. Resolvi telefonar ao Ruben.

-Sim Ruben?

“Catarina? Não é um bocadinho cedo?”

-Acordei-te?

“Ham… Sim… Mas que se passa?”

-Sai de casa, preciso que vejas o David.

“Hã?!”

-Precisava de arejar a cabeça e sai.

“Que se passou?”

-A Luísa beijou o David, mas fala com ele, ele explica-te.

“Então e onde andas? Estás bem?”

-Estou no Tivoli. Não te preocupes.

“Ok, eu vou ter com ele. Onde é que ele anda?”

-Em casa.

“Está bem, vou falar com ele. Adeus Catarina. Beijinhos”

-Beijinhos Ruben – Desliguei, agora podia dormir. Mesmo com as fotos a passarem na minha cabeça sabia que o David tinha apoio. Voltei a encostar a cabeça e dormi. Quando acordei era dezassete horas. Tinha acordado antes várias vezes mas forçava para dormir novamente mas já não conseguia dormir mais. Tinha fome, muita fome e o jogo do Benfica ia ser às vinte horas. Precisava de me despachar, ainda precisava de arranjar bilhete visto que o David tinha-me convencido a ir para os camarotes mas não estava com paciência para ir para lá. Ouvi a porta a bater e fui abrir.

-Sim?

-Menina Silva trouxe o seu casaco.

-Obrigada, espere um pouco. Vou lhe dar uma gorjeta.

– Fui à minha mala e agarrei em cinco euros.

– Tome, obrigada.

-Obrigada eu menina. Desculpe mas você não é a namorada do jogador do Benfica David Luiz?

-Sim, sou. – ou era até à poucas horas.

-Diga-lhe para não abandonar o Benfica, toda a gente gosta dele aqui e você podia convencê-lo.

-Vou tentar, obrigada.

-Obrigada menina. Mais uma vez, desculpe.

-Não faz mal. – Dizia ao mesmo tempo que fechava a porta. Tomei um banho e vesti as calças de ganga e uma blusa que tinha trazido. Levei o cartão do David e uns trocos para o metro. Era a primeira vez que não me importava de utilizar o cartão dele, como um castigo embora ele não merecesse nenhum mas eu era complicada. Sequei o cabelo e fiz um rabo-de-cavalo. Reparei que estava mais pálida do que nos outros dias, devia ser da fome. Vesti novamente o casaco e pus o gorro do casaco. Sai em silencio e cheguei à entrada, continuava a chover torrencialmente. -Menina vai sair?

-Sim, vou ver o Benfica.

-O seu namorado?

-Não. O Benfica.

-Desculpe, quer que lhe arranje um táxi?

-Não é preciso.

-Então e um guarda-chuva?

-Já agradecia.

-Tome menina.

-Obrigada.

-De nada.

Sai do hotel e estava mesmo a chover bastante, talvez arranjar um táxi fosse melhor mas não tinha dinheiro suficiente, só mesmo o cartão e algumas moedas. Entrei no metro e sai no Colombo, já estava cheio de Benfiquistas. Até me sentia mal, não tinha trazido o meu cachecol nem a minha camisola. Sai do Colombo para ir buscar o bilhete. Era o jogo com o Nacional e sabia que não ia estar o estádio cheio. Comprei o bilhete e entrei logo no estádio. Ainda faltava uma hora para o jogo mas precisava de comer. Comprei umas batatas, uma coca-cola e uma sandes de leitão. Embora não tivesse dinheiro pedi para depois o David entregar o dinheiro e eles lá aceitaram. Fiquei no piso zero da TMN, junto do banco do Benfica. Mesmo na frente. A equipa entrou e pela primeira vez não vi-a o David a correr para aquecer. Ele adorava o ambiente do estádio e só não corria a saltar porque não o podia fazer. Ele olhou para os camarotes, para o sítio onde costumava ficar, vi-o de seguida a passar a mão na testa e a expirar. Foi logo a correr para perto do Luisão treinar que era quem o acompanhava sempre no aquecimento. Vi o Kardec a entrar e não podia deixar de lhe falar.

-Oi Catarina. Por aqui? Está a chover bastante!

-Sim, vim ver se vocês ganhavam isto… Não faz mal, Benfica até debaixo de água.

-Vamos esperar que sim. Está bem Benfiquista. Até já.

-Até já… - Ele continuou a cumprimentar rápidamente as outras pessoas até se sentar no banco. Chegaram outros e também acenei. Sentei-me novamente, tinha mudado de lugar, em vez de estar na fila C estava na A onde os bilhetes nunca eram vendidos mas onde estava sempre gente. Já se ouvia os No Name e faltava pouco tempo para o jogo, os jogadores estavam a entrar para dentro do balneario e o David entrava ao lado de Ruben, com um sorriso amarelo para as outras pessoas não perceberem o que se passava. Mas eu sabia, eu conhecia-o bem demais…

publicado por acordosteusolhos às 23:39

Acordei debaixo do braço do David como maior parte das vezes acordava. Não sabia como não se queixava porque ainda tinha uma cabeça grande mas tenho a certeza que acordava todas as manhãs com o braço dormente. Não deixava a minha cabeça toda a noite debaixo do braço dele. Deitava-me sempre com a cabeça na almofada, virada para o corpo dela mas durante as noites dava tantas voltas que acabava naquela posição.
-Bom dia meu bem – acordava com uma voz doce e linda.
-Bom dia David… - dizia ainda com uma voz de sono.
-Eu vou fazer o seu pequeno almoço está bem?
-Hum, que bom! – Senti ele a levantar-se da cama, tentei voltar a dormir mas estava complicado. Já começava a sentir um cheirinho muito bom mas não sabia o que era. Quem costumava fazer os pequenos-almoços era eu. Levantei-me e fui à sala para ir à internet.
-Catarina, preciso de falar consigo.
-Que foi meu amor?
-É importante.
-Ok, já vou. Deixa-me só ver os jornais. – O David deixou-me preocupada mas queria ver os jornais, era já uma “tradição”. Olhei para a primeira página de A Bola, falava do Benfica para variar e de uma compra de um jogador. Desta vez falavam de Mário Fernandes, defensa central que viria para substituir o David. Estes já sabiam mais do que eu. No Record falava na venda do Fábio Coentrão e no Jogo vinha o Hulk. Decidi ver ainda o Correio da Manhã, falava do estado, do Benfica mas as notícias do correio da manhã nem valia a pena ver e no canto inferior direito fazia grande destaque a uma notícia da parte “vidas” do jornal. “David trai Catarina”. Comecei a rir com a notícia, já tinha saído uma do género mas na data em que o David supostamente estava com ela, estava a jantar comigo e com o meu pai.
-David nem vais acreditar no que está no Correio da manhã. Será que esta gente não tem vida? – ao mesmo tempo ia ao site de vidas e vi-a num grande destaque, outra vez, “David trai Catarina”. Carreguei para abrir e vi uma foto do David a beijar a Luísa. Senti uma dor por dentro, como se o coração tivesse parado. Senti a cabeça a latejar. A dor no peito era intensa. Senti as lágrimas a correrem a cara sem parar. Olhei para o lado e vi o David.
-Catarina, tem calma. Não se passou nada. Nada. Ela beijou-me apenas isso. Eu não queria, eu não… - Dizia-me com uma voz fina, nem deixei terminar. Dei-lhe um estalo com todas as forças que tinha, com toda a raiva que sentia.
-Como é que me foste capaz de fazer isto! Como?! Prometeste-me David! Prometeste-me!
-Desculpa, ela beijou-me, eu não queria…
-Cala-te! Deixa-te de desculpas, as tuas mãos estão junto da cara dela!
-Estava a afastá-la Catarina! Por favor, acredita em mim!
-Como queres que acredite em ti depois de ver esta foto! Como! Diz-me!
-Eu não estava a beija-la! Não estava!
-Olha para a foto David! Não estavas a beija-la? – As lágrimas continuavam a cair, a dor aumentava a cada segundo que passava. Nunca tinha discutido com o David e esta discussão estava a ditar o fim da nossa relação. Empurrei-o para o lado e fui para o quarto. Agarrei numa mala e abri-a.
-Catarina! Catarina onde é que você vai? – David já tinha chegado ao quarto. Eu já estava agarrar na roupa que podia e a meter na mala. – Catarina por favor! Não faz isso! Não sei viver sem você. Você sabe disso! - David tentava-me agarrar no braço para parar mas estava fora de mim. Sentia as lágrimas a caírem e a dor no meu peito que era cada vez maior, senti os meus joelhos a tremer, a ficar zonza e com a barriga a dar voltas. – Pára! – Dizia o David enquanto me agarrou no braço.
-Larga-me! – Dei-lhe um murro de reacção. Ele virou a cara com a força do murro e vi o seu lábio a sangrar – David, desculpa. Eu não queria. Eu…
-Por favor Catarina deixa-me explicar. – Agarrei na mão dele.
- Vem à cozinha, quero te pôr gelo na cara. – Fomos ambos para a cozinha, ambos também a chorar. Deixei-o na cadeira e fui buscar gelo ao congelador.
-Posso te contar o que se passou?
-Não sei David, não sei.
-Eu vou contar, eu estava a sair da conversa que tive com o treinador e estava mais o Ruben e quando chegamos ao parque de estacionamento ela estava encostada ao meu carro. O Ruben disse que ia-se embora para eu puder falar com ela e ele foi-se embora. Quando cheguei ao meu carro pedi a ela para sair e ela não saiu, pedi a ela mais três vez e ela ignorou. Entrei dentro do carro e ela não saía da traseira e eu não podia sair pela frente, então eu sai do carro e agarrei no braço dela e puxei-a para ela sair, fui bruto e tudo, mas quando já a tinha tirado da frente do carro ela agarrou-me e beijou-me. Eu empurrei-a logo mas no final ela disse “Amanhã já és meu. Ela vai-te largar” e agora já estou a perceber porquê. Foi tudo um estratagema dela. Ela planeou tudo isto para me ver longe de ti, mas eu não o vou fazer. Eu amo-te e preciso que você acredite em mim. Eu não sou nada sem você Catarina. Por favor! Eu ia-te contar isto ontem à noite mas não ganhei coragem e hoje de manhã tomei coragem e quis falar contigo antes que soubesse por alguém. Cheguei tarde. Desculpa. Catarina, pára. Olha para mim – estava a limpar o sangue que ele tinha perto da boca e ele agarrou as minhas mãos – Acredita em mim, eu não estou a mentir, você conhece-me… - David continuava com a voz fina e chorava.
-David, tu não me peças para te perdoar. Tu não sabes a dor que eu sinto agora. Custa-me respirar, custa-me estar a teu lado. Preciso de um tempo para pensar.
-Como achas que eu estou? Não consigo ver você assim.
-Desculpa David.
-Desculpa? Não me faça sentir assim… Eu deixo-te dessa maneira e você ainda me pede desculpa? Eu não te mereço.
-Não, não! Por favor, não me digas isso. Nunca mais me digas isso. Nunca!
-É a verdade Catarina. Por favor, me perdoa?
-Eu desculpo-te David, mas não esqueço e preciso de ir embora durante uns dias. Preciso de pensar e esquecer isto tudo.
-Para onde vais?
-Não sei. Não sei. Não posso ir para a casa da minha mãe, não posso deixar que ela me veja desta maneira. Nem os meus amigos.
-Vai para o hotel Tivoli uns dias descansar, eu pago a sua estadia.
-Não sei.
-Aceita…
-Está bem.
-Fica com este cartão. – Agarrei no cartão e sai da cozinha. Ainda sem puder controlar as lágrimas. Arrecadei a mala e fui à busca de uma mochila, tinha intenção de voltar. Arrumei dentro da mochila três calças e quatro blusas de manga comprida. Levei uma camisola do David, embora toda a situação precisava de alguma coisa dele para me sentir segura. A mala estava cheia, vesti o casaco mais quente que tinha e arrumei o carregador do telemóvel na minha mala. Senti o David na porta. Virei-me e vi ele com as mãos na cara a limpar as lágrimas. Parte de mim queria abraça-lo, sabia que ele estava a dizer a verdade mas a outra parte de mim queria fugir. Agarrei na mala e na mochila e fui-me embora. Passei pelo David sem me despedir, as lágrimas continuavam-me a cair pela cara. Queria que parassem mas não conseguia. Era mais do que eu. Fechei a porta de casa e fiquei à porta. Queria ir embora mas o amor ao David não o permitia. Tirei as chaves da mala e abri da porta. David estava na sala sentado, com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos na cara. Levantou-se imediatamente. Ficamos ambos estáticos a olhar um para o outro.
-Catarina, que se passa?
-Não me conseguia ir embora sem me despedir. – Beijei-o ao mesmo tempo que chorava. Ele pousou a sua mão direita na minha cara e a esquerda nas costas. Ambos sentimos o mesmo naquele beijo, amor. – Promete-me que vais fazer um bom jogo e vais continuar bem. Eu volto, prometo. Só preciso de aliviar a cabeça.
-Eu prometo – Abracei-o como podia, queria sentir o cheiro dele mais uma vez.
-Amo-te – Sussurrei ao ouvido dele.
-Obrigada, eu prometo. Eu amo você. – sussurrava ele também ao meu ouvido. Larguei-o e fui me embora sem dizer mais nenhuma palavra. Precisava de ir embora mas iria voltar e ele sabia disso.

publicado por acordosteusolhos às 12:35

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